quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

2019, o ano do dragão da maldade que não terminou



Brasil, meu Brasil brasileiro
hospitaleiro
mandou para o hospital
o mulato inzoneiro
porque era preto e macumbeiro
esse coqueiro que dá coco
não deu coco mas goiaba
Jesus Goiabinha, vestido de azul
encheu de porrada
a viadada, a sapatada, a criolada
encheu de tiro
o cacique
(tudo comunista!, tudo petista!)
Jesus cabeça oca
queimou a oca
tascou fogou na floresta
rápido e rasteiro
a tempo de participar do culto das 19h
os cidadãos de bem
invadiram a praia, o campo, a cidade
com armas de dedo ou de fogo
gritam palavras de ordem
abaixo a mamadeira de piroca!
abaixo o kit gay!
fechem o STF!
canarinhos que não cantam
só gritam e gritam
viva nosso herói!
viva o tosco!
viva o mau!
viva o vil!
a corrupção acabou!
Lula tá preso, babaca!
enquanto isso, na Sala de Justiça
Super Gêmeos, ativar!
forma de laranja-móvel
forma de chocolate meio-amargo
forma de miliciano tropa de elite dois
(mas e o PT? e o Lula?)
mas o que importa
é todo mundo burro
todo mundo porta
todo mundo morto antes da aposentadoria
acaba a educação, a saúde, a arte
desonera a máquina estatal
sobra dinheiro para o banqueiro investir
para o velho da havan sorrir
Brasil, devagar com o andor
porque o santo é de barro
não, quebrem o santo,
o andor, o templo de candomblé
destruam o diferente,
afinal, o diferente é anormal
exibam as cruzes gamadas
as suásticas em praça pública
acabou a mamata!
acabou a bagunça!
sai a promiscuidade
entram a tradição, a família, a propriedade
a seita que dói menos
chola mais kkk

2019, o ano em que fizemos contato
com o pior de nós

Carlos Cruz 31-12-2019

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Crônicas Policiais VIII - Punisher



Daí você tá de boas trabalhando e recebe um vídeo no whatsapp cuja imagem inicial é de um homem branco, nu, ensanguentado, aparentando uns trinta anos, forte do tipo trabalhador rural, deitado em decúbito dorsal com as pernas abertas, tendo um pitbull a poucos centímetros de sua virilha. O cenário é rural e, em volta do homem caído, uns cinco ou seis homens trajando jeans, camisas xadrez e botas Zebu.
Daí você pensa em deletar, como sempre faz com vídeos dessa natureza, mas a legenda lhe chama a atenção: "Estuprador", assim, sem ponto, sem nenhuma outra sentença que pudesse tentar justificar minimamente a sentença grotesca e cruel que viria a seguir.
Respirei fundo e premi o play. Como já previa, o pitbull atacava o homem, que já não possuía mais pênis nem saco escrotal, o cão os devorara. Ainda assim - talvez em prol do curta-metragem dantesco - o cachorro seguia mordendo e puxando e comendo pele e músculos, enquanto o homem, cujas pernas eram seguras sem muita força por dois "atores", gritava, gritava e gritava, também sem muita força sonora.
Junto com o arrependimento por haver "aberto" o vídeo (sou aficionado por filmes trash, especialmente splatter gore, mas quando a coisa é real, no me gusta ni un poco), vêm à mente, inexoravelmente e à revelia da minha vontade, os diversos casos em que atendi ao longo dos meus dezesseis, quase dezessete, anos de policial civil.
Mas, e se aquele torturado do vídeo fosse aquele cara que foi acusado de estupro pela amante porque ele não quis largar a família e colar com ela?
Mas, e se aquele infeliz do vídeo fosse aquele senhor que foi acusado pela companheira e pela sogra de ter estuprado os filhos porque a companheira tinha um amante e a sogra não gostava do genro e queria que a filha o substituísse por outro que lhe proporcionasse carro e casa boa?
Mas, e se aquele "castrati" do famigerado videozinho de whatsapp fosse aquele peão daquela fazenda que foi pego no ato com a patroa que, pra se safar, disse que ele a estava estuprando?
Mas, e se aquele desgraçado pelado com o sexo devorado pelo cachorro fosse aquele cabra que deu uma carona para a evangélica que chupou gostoso o pau dele mas, ao ser questionada pelos pais onde estava até aquela hora, acusou o cara de estupro pra não ser crucificada pelos parentes e escapar imaculada do fogo do inferno?
Opa! Antes que alguém, com o cenho franzido, me pergunte: sim, já atendi e registrei e investiguei dezenas de estupros que realmente se tratavam de estupros, com autores indiciados, presos e processados por seus crimes na mais estrita dura lex, sed lex.
Mas... Lex!, sempre dentro da Lei, branda para uns, rigorosa para outros.
Gosto daquele personagem Justiceiro, da Marvel. Primeiro, porque é um personagem fictício; segundo, porque ele só vai na boa, o criminoso é um criminoso cruel e sanguinário sem a menor sombra de dúvida.
Contudo, no mundo real não é assim. Há que se seguir à risca o devido processo legal. Há a investigação. Há a juntada de provas. Há o julgamento. Há o contraditório e a ampla defesa. Há a sentença. E o cumprimento da pena. É o melhor sistema? Sei lá. Mas é o que temos. Fora isso, temos a barbárie, o homem nu, o homem deitado com as pernas pra cima, o homem com o saco e o pênis devorado pelo cão faminto.
Temos também o dono do cão e seus amigos, todos cidadãos de bem que vão à missa ou ao culto e entoam louvores para honra e glória do nome do Senhor.
Recebi o mesmo vídeo cine trash do mundo real atual em vários outros grupos. Impossível identificar a origem face à disseminação. Tecla del geral e duas certezas: tem gente ruim pra caralho solta por aí e quero raspar a cabeça, envergar um vestido laranja e me recolher a um mosteiro no Tibet.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

crônicas policiais VII -Fim de Ano




-Inspetor Cruz! - chama uma voz feminina às minhas costas enquanto caminho apressado na calçada. Volto-me com a cara amarrada pois estou com pressa e sei que o "Inspetor Cruz" significa cliente de Delegacia querendo que eu interrompa meus afazeres e minha merecida folga para tentar resolver seus problemas. Deparo-me com uma senhora na casa dos cinquenta anos, toda sorrisos, uma fisionomia longinquamente familiar.

-Quero agradecer ao senhor pela ajuda que o senhor me deu aquele dia. Eu tava muito nervosa e não disse nem um obrigado pro senhor. Não sei o que seria de mim aquele dia sem a ajuda do senhor. Muito obrigado mesmo! E um feliz ano novo pro senhor e pra sua família! Que Deus ilumine o caminho do senhor e encha sua vida de bênçãos porque o senhor é uma pessoa boa e merece tudo de bom.

-Obrigado, mas não fiz nada de mais, nada além da minha obrigação. - respondo, enquanto viro e reviro meu baú cerebral à caça da história protagonizada por aquela senhora. Não encontro. São dezenas de casos e vítimas e testemunhas e acusados e envolvidos toda semana.

-Fez sim, o senhor me ajudou muito. Tudo de melhor pro senhor. Fique com Deus.

-O mesmo pra senhora. Vá com Ele.

Desisto de fuçar minha caixa de memórias, na esperança de que aquela em especial me venha espontaneamente mais tarde. Sinto uma coisa boa que me faz bem. Não é todo dia que alguém para o guarda na rua para agradecer pelo cumprimento do seu dever. Quero manter essa sensação por mais tempo mas ela logo se desvanece. A mensagem no grupo de WhatsApp da DP diz que o xadrez está cheio de presos, presos com raiva da sociedade, do sistema, do guarda zeloso.

O sistema é bruto, a vida é curta e gentileza gera gentileza.

Sigamos nossos caminhos e combatamos o bom combate quando preciso for.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

crônicas policiais VI - vida loka, vida breve




a guarnição da Polícia Militar apresenta o cidadão, sujo e maltrapilho, com uma mochila ao redor da qual esvoaça um enxame de moscas. consultaram o Banco Nacional de Mandados de Prisão e consta um mandado pendente em desfavor do andarilho, condenado a três anos por roubo perpetrado na cidade de Divinópolis-MG.


o cara tem cara de maluco, aqueles olhos permanentemente arregalados com movimentos esgazeados e fala pelos cotovelos.



acautelamo-lo educadamente na cela, após a revista de praxe com a remoção de cinto, cadarço, objetos de metal e tudo o mais que possa ser utilizado para autolesão e/ou tentativa de transformar o xadrez em túmulo.



eu e o colega de plantão voltamos aos nossos afazeres, chamando os próximos da fila que aguardam atendimento e desejam ardentemente que a polícia os ajude a resolver seus problemas, ainda que nem sempre a polícia tenha poderes para ajudá-los a resolver seus problemas.



a fila anda e chegam guardas municipais com outro cidadão algemado, preso em flagrante por furto do celular de uma transeunte. levamos o ladrão, que se desfaz em lágrimas, para o xadrez. durante o check-in, ele diz que faz tratamento psiquiátrico e toma trocentos medicamentos controlados, haldol, diazepan, gardenal, etc. a cadeia está cheia e temos de colocá-lo junto com o doido. quem sabe os dois malucos não tenham assuntos em comum a tratar?



o colega abre a cela e o primeiro maluco come o segundo no esporro:

"que porra é essa? tu é maluco, mermão? é mão pra trás e cabeça baixa! é sim senhor, não senhor! cadê a disciplina, caralho? agora é regime militar! vem pra cá que vou te ensinar! começa pagando vinte! vou te ajudar, vamolá."


fecho a porta na décima flexão dos dois e penso: é, não fosse criminoso, esse maluco poderia ajudar a mudar isso tudo que taí.

domingo, 4 de novembro de 2018

Crônicas Policiais V - A Vida Como Ela Não Deveria Ser



Há mais de vinte anos, época em que ainda era funcionário da MRS Logística, conheci um adolescente que estagiava no meu local de trabalho. Franzino, baixinho, rosto repleto de espinhas, retraído, tom de fala baixo, sempre de olho nos pés do interlocutor, um poço de timidez e introspecção. Estagiário em seção diversa daquela em que eu trabalhava, tivemos tão só contatos eventuais em função de trabalharmos no mesmo local.


O tempo passa, eu me caso, me mudo de um lado para o outro e, enfim, compro uma casa financiada em 360 meses pela CEF e finco pé.



A empresa atravessa um período de crise e as demissões são frequentes. Meu filho nasceu há poucos meses e todo dia sou forçado a controlar a apreensão de ver meu nome encabeçando a lista dos cabeças-cortadas. Um belo dia, ao sair de um pernoite no qual soube que mais três – bons – funcionários haviam sido ceifados, decido agir. Inscrevo-me em um concurso para Inspetor da Gloriosa Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.



Faço a prova objetiva, passo. Faço o exame psicotécnico no Rio de Janeiro; na saída do exame esbarro com o moço espinhento. Trocamos algumas palavras sobre o concurso, logicamente, e fica nisso.



Passo na porra toda mas não sou classificado nas vagas. Torno-me um excedente. Eu e mais uns mil e poucos candidatos. Fico decepcionado mas - fazer o quê - vida de concurseiro é isso. Os dias passam e fico sabendo que uma comissão foi formada dentre a galera que sobrou pra tentar nosso aproveitamento com base em uma lei estadual que prevê um efetivo de vinte e poucos mil policiais civis e a Gloriosa só contava com pouco mais de dez mil. Me animo: ainda resta um filete de esperança. Em contato com a tal comissão descubro que, além de mim, há mais dois em minha cidade na mesma situação de aprovado pero no classificado, um deles é o ex-estagiário.



Sondo e fico sabendo ainda mais: o cara mora a poucos metros da minha casa, somos praticamente vizinhos. A partir daí, estabelecemos um contato frequente por conta do interesse comum.



Os excedentes do concurso, representados pela comissão, alcançamos algumas vitórias, paulatinamente: alteração da validade do concurso, convocação para o curso na acadepol. Decido meter o pé do antigo mister, embora saiba que tal decisão é assaz temerária: nada é líquido nem tampouco certo.



Alugo um apartamento no Rio junto com outro candidato da minha cidade para fazermos o curso. Convidamos o franzino mas ele declina: quedar-se-á em casa de parentes, sai mais barato, a despeito da distância maior que teria de percorrer diariamente.
Fazemos o curso, as provas, passamos, tamos dentro. Sou lotado num canto, ele noutro. A vida corre, o tempo passa e chegam as notícias: o amigo tá fazendo um monte de coisa errada, também chamadas de “merda atrás de merda”. Repudio, refuto as notícias, taxando-as de maledicência: não, não existe a menor possibilidade de que aquele menino mocorongo, todo retraimento, esteja se dedicando a tais práticas reprováveis.



Tempos depois, mais notícia ruim: o cara foi preso. Caralho! Não pode ser! Mas, é.



Os meses passam e, certo dia, esbarro com o caboclo na pista.
E aí, beleza?
Tranquilo.
E aí, tá trabalhando onde?
Ainda tô de molho. Aqueles filhos da puta me foderam, não fiz porra nenhuma de errado!
É foda. Infelizmente todos estamos sujeitos a isso. (Penso: todos uma ova! Eu é que não me meto em furada! Antes endividado que demitido e preso!)
É.
Então fica assim. Vou indo nessa.
Valeu.
Valeu, brow. Fica com Jesus.



Muitos sóis sobem e descem e, com um deles a pino, recebo a notícia mais pior de ruim: o colega assassinou a esposa, crivou-a de projéteis, encheu-a de chumbo, enviou-a a contragosto e sem escalas para a terra dos pés juntos. Qual das vezes outras, desta feita com mais ênfase, dou vazão à minha incredulidade: “o Fulano?!?! Não, não posso acreditar nisso!!!” Mas era à vera. Após matar o cônjuge virago, tentara fugir, mas fora capturado, preso em flagrante por homicídio qualificado.



O tempo é a borracha da memória. Passam-se os anos, vou de uma delegacia para outra e paro na de minha cidade natal.



A noite é atípica: a delegacia, quase sempre com fila de espera, está vazia. Bato um papo descontraído com o colega do plantão – coisa que há tempos não fazemos. Vejo a luz de um giroflex que se aproxima. A viatura do SOE – o serviço de transporte de presos – para. “Lá vem preso pra depor amanhã.” – falo para o colega do plantão. Os agentes abrem a porta traseira, um único preso desembarca, com a característica camisa de malha branca. Vêm se aproximando e reconheço o ex-colega franzino, baixinho, rosto repleto de espinhas, retraído e que falava baixo. Outro preso, mais um preso, um preso como outro qualquer. Quando me vê, esboça um sorriso, estende a mão direita algemada à outra e diz: “André! E aí?”. Ao ouvir o nome pelo qual somente meus pais, irmãos, tios e primos me tratam, vindo de um preso do sistema, levo alguns segundos para estender a mão e apertar a dele, bate uma confusão na cachola de policial civil com quinze anos de profissão. Dirigimo-nos ao cárcere, o preso escoltado pelos agentes da SEAP, a Secretaria de Administração Penitenciária. Ele calça tênis. Não pode entrar com eles por conta dos cadarços (presos, quando querem se matar, usam até a própria camisa). Peço para tirá-los e calçar um par de chinelos que algum outro prisioneiro deixou para trás. Ele me olha com cara de “pô, André, fala sério!” mas nada diz e faz o que pedi. Entra na cela, bato a pesada porta de aço e tranco o cadeado.



Os agentes se vão e eu fico com meus pensamentos. Bate “um ruim”, um incômodo chato que só posso definir como tristeza. Estou triste por ver o antigo amigo que nem era tão amigo assim – nunca bebemos nem conversamos amenidades em um botequim qualquer juntos – naquela deprimente situação. É a última noite do plantão, noite que custa a passar.



Puta que pariu, cara, que merda é essa que você fez com a sua vida?



Pela manhã, ele pede um banho. Não quer encarar o Tribunal do Júri fedendo. Peço ao colega do plantão que atenda ao pedido. Não quero contato porque não quero vê-lo porque quando o vejo enxergo um monstro saído do lodo das minhas memórias, um ser humano disforme feito de várias caras, umas boas, outras ruins, cuja visão me faz mal. Sinto-me um pouco culpado por isso. Mas, foda-se. Quem fez merda não fui eu.



O plantão termina, graças a Deus. Volto pra casa e o cara vai pro fórum. Não sei a sentença nem quero saber. Quero beber minhas cervejas e fumar meus cigarros e ler meus livros e ver meus filmes e beijar e amar minha esposa. Aproveitar minha folga porque outro plantão vem aí e não demora a chegar.



Continuo achando que ganho mal pra fazer o que faço. E que não existe bicho mais esquisito e imprevisível que o ser humano.



Que merda.
Carlos Cruz

sábado, 3 de novembro de 2018

Crônicas Policiais IV - arma de fogo para quem precisa



há alguns anos, estava eu de plantão na Delegacia, quando para uma viatura da Polícia Militar da qual desembarcam dois policiais, um senhor e uma criança.
o senhor, de aparência muito simples, reunia no rosto banhado em lágrimas a expressão de sofrimento de mil homens torturados.
a criança, um menino de seis anos também de aparência humilde e também chorando a cântaros, estava assustado e confuso.
um dos policiais, que trazia consigo uma espingarda de um cano, calibre 28, muito antiga, gasta e enferrujada, narrou-me o ocorrido: aquele senhor devastado ali na minha frente, um lavrador cuja esposa falecera de um câncer há alguns meses, era o proprietário daquela arma de fogo, herança de seu avô, que na maior parte do tempo ficava guardada sobre o guarda-roupas no seu quarto. vez ou outra, ele a usava para afugentar alguns animais da lavoura.
um belo dia, o filho o vê retirar a arma do local de guarda. após o óbito da matriarca, o pai, ao sair para a lida, deixava as crianças - eram dois meninos, o menor tinha cinco anos de idade - com uma vizinha.
acontece que, naquele dia, a vizinha precisou sair e não pôde ficar com os pequenos. o pai não podia deixar de ir ao trabalho sob pena de perder o emprego, o local era distante e seria bastante difícil levar os moleques na bicicleta. decidiu deixá-los algumas horas a sós, a vizinha retornaria na hora do almoço.
o pai saiu. o menino maior lembrou-se de onde o pai guardava a espingarda e propôs ao irmãozinho brincarem de polícia e ladrão. é claro que o menor topou. arrastaram uma cadeira, sobre a qual colocaram um banco e o mais velho conseguiu alcançar a arma longa.
a brincadeira durou muito pouco. o mais velho, que obviamente era o polícia, matou o bandido com um tiro no peito, direto no coração, o pequeno coração do seu irmão mais novo, seu único irmão. não pulou de júbilo nem gritou de alegria junto ao irmão, a reinação acabara em uma poça de sangue. o menino correu desesperado em busca de ajuda, pois telefone na zona rural é artigo de luxo e a habitação mais próxima ficava a mais de um quilômetro. mas foi vão, o irmão já partira para o planeta dos anjos, em uma nuvem de fumaça com odor de carvão, salitre e enxofre.
estavam ali na minha frente, aguardando meu bater de teclas, aquela família destroçada por balins de chumbo. o Delegado, humanamente, não me mandou autuar o pai em flagrante pela posse ilegal de arma de fogo de uso permitido. enquanto fazia meu trabalho, também fiz o que sempre faço embora não deva fazer: pus-me no lugar do pai. na época meu filho tinha a mesma idade do menino mais velho. na verdade, não me pus no lugar dele porque é impossível absorver, sentir ou mesmo sondar a dor de um pai que perde um filho nessas circunstâncias. ao mesmo tempo em que se arrepende de não haver se desfeito da arma, se autoflagela por sua imprudência em deixá-la carregada, pensa em tirar a própria vida mas sabe que isso não fará o tempo retroceder nem trará de volta o sorriso do seu filho. terminei meu trabalho, pai e filho foram velar a criança morta e eu fiquei com meus pensamentos e meu coração apertado. outro "cavaco do ofício" difícil de suportar e extrair. na folga seguinte, a primeira coisa que fiz ao entrar em casa foi descarregar minha pistola, desmuniciar os carregadores e guardar arma, carregadores e projetis em esconderijos bem distantes um do outro.
quando vejo todo esse iê-iê-iê em torno da revogação ou abrandamento da Lei 10.826/03, o Estatuto do Desarmamento, sempre me lembro dos rostos daquele pai e daquele menino, para sempre destruídos por um tiro de espingarda. armar o cidadão de bem, será mesmo essa a solução para nossos problemas de segurança?
"porra, Cruz, mas esse é um caso em dez mil!"
tá certo, irmão, tá certíssimo. mas, reflitamos juntos: se liberar a posse e/ou porte de arma de fogo pra geral, aumentam também o número de gente armada e gente, você sabe, cada um é diferente, logo, aumentará também o número de imprudentes e os acidentes e os pais e mães e filhos e tias e tios e sobrinhos pranteando seus entes queridos mortos, a matemática é pura, aplicada e má.
cada caso é um caso mas, a meu ver, possuir arma de fogo é uma solução de dois canos alternados: um aponta para o vagabundo, o outro para o cidadão.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Crônicas Policiais III - os cavacos do ofício às vezes entram embaixo da unha e fazem doer




o cara acabou de perder o pai, atropelado por um caminhão. está ali, na DP, porque, na qualidade de filho, pode fornecer dados acerca da vítima e agilizar sua qualificação e conclusão das formalidades.


embora não tenha presenciado o acidente, o colega pede para ouví-lo como testemunha circunstancial. faço a busca de qualificado no sistema e tenho uma surpresa - desagradável para mim, muito desagradável para ele: o cara tem dois mandados de prisão pendentes por inadimplemento de pensão alimentícia.


solto um "puta que pariu!" e peço desculpas à moça no balcão que aguarda para ser atendida. o cara acabou de perder o pai e não vai poder velá-lo nem enterrá-lo nem dar o último adeus. a transferência é inevitável, ponho-me no lugar dele e penso - impossível não pensar - em prevaricar.


Art. 319 do C. P. - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.



o pensamento se esvai. "você é um agente do Estado, Carlos Cruz, agente da repressão, polícia, e polícia existe pra ajudar alguns e foder os demais. se queria ser humano, demasiado humano, porque não fez concurso pra área da saúde ou assistência social?"


não, não posso prevaricar e, ainda que quisesse, isso seria pedir pra me ferrar: já consultei o cara no sistema e isso gera um 'log' alcaguetador. verifico a listagem do plantão judiciário. "caralho!" - peço novas desculpas à jovem, o plantão não é em Paraty nem em Angra dos Reis, é na Vara de Família de Barra do Piraí, ali no fórum ao lado da DP, mesma vara de onde provieram os mandados de prisão.


dou a má notícia ao cabra, torcendo pra ele não chorar. ele faz cara de surpresa e dá as mesmas desculpas que todos na situação dele dão: mas isso aí tá errado, as pensões estão todas pagas, meu filho já é 'de maior', etc. redarguo: ótimo, então vai ser fácil resolver. me dá o número de telefone do seu advogado, rápido. ligo, explico o caso, chamando a atenção para a questão do plantão judiciário próximo e passo o telefone para o desditoso preso.


o advogado vem, pega as cópias dos mandados e vai. as horas passam, a noite cai, o advogado volta e diz que conforme seu cliente havia dito - vez ou outra acontece - ele está em dia com a pensão e quite com a Justiça: o alvará de soltura já foi expedido mas depende do sarq/polinter. o cara terá de dormir no xadrez. na manhã do dia seguinte, bem cedo, o oficial de justiça vem soltá-lo, enfim. o homem - até então firme como o Pico da Neblina - desaba em lágrimas e eu corro pro banheiro pra não fazer o mesmo. homem que é homem, polícia que é polícia, não choram.


depois, vêm as novas ocorrências de sempre, as mesmas vítimas, os mesmos presos, as mesmas queixas e esqueço o caso do prisioneiro azarado.

Crônicas Policiais II - Martela o Martelão




-boa tarde. pois não? – pergunto ao travesti debruçado no balcão.

-oi. eu quero fazer um BO contra meu ex-marido.

-sim, mas o que aconteceu?
-ele me agrediu.
-mas você está machu... – ‘machucado ou machucada?’, fico na dúvida.
-você sofreu lesões?
o rapaz... a moça... a pessoa afasta as madeixas negras e exibe uma equimose na fronte direita.
-mas por que ele fez isso com você?
-ciúmes. ele não aceita que eu não quero mais nada com ele e já estou ficando com outra pessoa.
-entendi.
-e eu quero a Lei Maria da Penha! quero medida protetiva como da outra vez.
-você já fez outro registro contra ele?
-fiz. e o juiz mandou ele ficar longe de mim duzentos metros.



penso: não vai rolar. a despeito da multiplicidade de tipos de relacionamentos afetivos, o sistema da delegacia segue a letra da Lei 11.340/06, que já no seu artigo 1º define o seu objetivo: coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. ou seja, para solicitar as medidas protetivas previstas na referida Lei, a vítima precisa ser qualificada no sexo feminino. sei que existe jurisprudência no sentido da concessão das medidas nos casos envolvendo relações homoafetivas masculinas, contudo, o sistema usado na DP ainda não se adaptou a isso: não gera o pedido de medidas protetivas para vítima do sexo masculino. decido consultar o procedimento feito anteriormente a fim de verificar a solução encontrada pelo colega.



-me empresta sua carteira de identidade.

surpreso, verifico o nome no documento: Kethlleen Christinne de A. da S., com data de emissão bem recente.
será que ela decepou o bingulim e as bolinha? levo a mão, instintivamente, até meu saco. ele está lá, graças a Deus. começo a sentir um filete de uma dor psicossomática escrota nos colhões.
-você usou esse nome quando fez o último registro?
-não.
-e que nome usou?
-ah... eu não gosto de falar. – responde Kethlleen, entregando-me outra identidade. o rosto na foto era o mesmo, mas o nariz e os cabelos... quanta diferença. o nome que se lia possivelmente era uma homenagem aos avós: Sebastião Asdrúbal de A. da S..



pesquisei Sebastião e localizei o procedimento. o colega que o lavrou fez constar o nome civil, o nome social, a orientação sexual como homossexual e o sexo feminino. embora forte candidato a engrossar a lista de ‘não conformidades’ feita regularmente pela corregedoria, a solução era a única possível para burlar o sistema e permitir a geração do pedido de medidas protetivas e consequente entrega ao Judiciário no prazo de 48 horas, como manda a Lei.



faço contato com o Delegado e passo a bola. ele faz referência à jurisprudência e determina que eu faça o mesmo que o colega no registro anterior.

lavro o procedimento, imprimo, Kethlleen assina tudo e indaga:
-O Tigrão ainda trabalha aqui?
lembro imediatamente do personagem do desenho animado e também da letra do funk antigo. ‘vou passar cerol na mão, assim, assim, vou aparar pela rabiola...’
-Tigrão?
-é. não sei o nome dele. é um moreno, alto, forte, com olhos de mel, lábios carnudos e cara de dominador.
deixando de lado o ‘lirismo’ da descrição, repasso mentalmente todos os colegas da DP. não, não tem nenhum com aquelas características.
-deve ter sido transferido. trabalho aqui há poucos meses e não o conheci.
-ah... que pena... ele me atendeu tão bem... – Kethlleen com expressão saudosista.



dou meu trabalho por encerrado e paro de especular sobre o colega cortês, zeloso e bem-apessoado que não está próximo para ser zoado, digo, elogiado pelo bom trabalho desempenhado e urbanidade no atendimento.

Kethlleen agradece e se vai, rebolosa e chacoalhante.


entro na internet e verifico que o DETRAN/RJ já disponibiliza o serviço de emissão da carteira de identidade social mediante o pagamento de um DUDA no valor de R$37,15.



vejo também que alguns sites apresentam listas contendo 17, 31, 37, 56 e outros números mais de gêneros sexuais ou orientações sexuais ou outro nome sexuais e concluo que, apesar dos esforços, nosso sistema, com suas parcas oito opções no drop-down ‘orientação sexual’ está defasado com relação à realidade, ainda está na época do GLS.



como diria aquele sexólogo famoso cujo nome não lembro: ‘em se tratando de sexo, há mais variedade entre o céu e a terra do que sonha nossa vã tecnologia.’

domingo, 22 de outubro de 2017

Crônicas Policiais - alérgico ma non troppo



Dia desses experienciei aquilo que talvez seja o que experiencia as pessoas que morrem de morte morrida.
Cumpria meu plantão semanal de quarenta e oito horas na Delegacia de Polícia de Vassouras, quando tive uma ideia genial para combater um raio de um torcicolo que estava me incomodando horrores: além dos analgésicos, decidi comprar e chapar um comprimido do anti-inflamatório diclofenaco potássico, mais conhecido como Cataflan. Useiro e vezeiro na sofisticada arte da automedicação, desde quando era criança pequena lá em Barbacena, pensei: se não fizer bem, decerto mal não fará. Pra ficar um coquetel bacana, tomei mais uma dipirona e um Dorflex, concomitantemente (a concomitância medicamentosa é a cereja do bolo da automedicação).
Minutos depois, enquanto ouvia uma senhora reclamar dos latidos noturnos do labrador do vizinho, a coceira começou: primeiro, um pruridozinho no alto do cocuruto; depois, o saco comichando mais do que o normal; depois os braços, o tórax, as pernas, o cu, a comichão foi se alastrando por todo o corpo. Já conhecia aqueles sintomas, pois não era a primeira vez que tinha... alergia! Sentindo o rosto em chamas, pedi desculpas à senhora insone e ao colega que segurasse o plantão. “Cara, você tá vermelho igual um tomate!” – o coleguinha, sempre gentil.
Corri ao hospital, coçando-me todo qual um cão sarnento. Esperei sem qualquer paciência o atendente preencher minha ficha – “é a primeira consulta do senhor? Qual seu nome, endereço, telefone? Tem alguma doença? Tomou algum medicamento recente? Qual o seu time? É biscoito ou bolacha, o certo?”
Eternos minutos depois, a consulta. Pressão: 15 x 7. É alérgico a algum outro medicamento? Sim: penicilina e seus derivados. Aguarde um pouco que vamos lhe aplicar uma medicação. Qual? Fenergan e hidrocortisona. Beleza. Ah, o senhor é policial civil? Sim. Perdi o documento do meu carro. Caramba, que chato; se eu sobreviver, vai na delegacia depois que faço o registro de extravio. Ok.
Sou instruído a aguardar em uma sala onde várias pessoas estão sentadas em um semicírculo. Um senhor com o pé inchado e uma ferida purulenta na sola. Diabetes; penso em papai, também diabético, também com recorrentes feridas nas solas dos pés. Outras pessoas recebem medicação intravenosa.
Espero. A eternidade. A comichão se espalhando, a cara pegando fogo. Quando já me preparava pra arrancar as roupas a fim de facilitar a coçação, os remédios chegam. Injeção no braço, injeção na bunda. Não tenho o mínimo pudor em arriar parte da calça e exibir parte do glúteo direito pra todos que estão na sala. O que é uma bunda peluda diante de um problema de saúde cabeludo e urgente? A enfermeira é hábil, quando percebo os medicamentos já estão circulando no meu corpo. Agora é só aguardar eles fazerem efeito. Obrigado, moça. Ah, o senhor é policial civil? Tô com um problema com a minha vizinha, ela é uma tremenda fofoqueira e fez uns comentários a meu respeito que estão me causando problemas com meu marido... A medicação começa a surtir efeito, sinto-me mal, um torpor, a boca seca, um zunido estranho no ouvido esquerdo. Moça, desculpe te interromper, mas estou me sentindo mal. Vamos medir sua pressão... 9 x 5. Espere lá na sala. Daqui a pouco você vai se sentir melhor. Obrigado.
Sento novamente no semicírculo. O velho da ferida no pé inchado aponta pra mim: ele tá passando mal. Tô, meu senhor que lembra meu pai, tô muito mal. A luz fria das lâmpadas aumenta de intensidade, mais forte, mais, mais... “Vá para a luz, Carolaine!” – lembro da médium anã de Poltergeist e sua voz irritante. As pessoas ao redor estão diferentes, seus traços, suas cores vão ficando mais acentuados: estão virando personagens de desenho animado. A qualquer momento vai aparecer uma caralha de um túnel iluminado cheio de vultos com os braços estendidos para me abraçar, me imobilizar e me conduzir coercitiva e docemente para a Terra-dos-Pés-Juntos. “Não vou pra porra de luz nenhuma, caralho!” – grito. Todos me olham com cara de “coitado... é maluco...” Sinto que vou desmaiar a qualquer momento, na dúvida se vou continuar sentado ou deslizar para o chão e acordar em uma cama com grades cinza baixinhas e duas lâmpadas fluorescentes fazendo meus olhos arderem. O pior da sensação de desmaio iminente é pensar na total perda de controle sobre a sua vida durante o período de inconsciência: sua existência estará – à revelia da sua vontade – nas mãos de pessoas estranhas. Lembro da cena de algum filme ou série em que o paciente estrebucha, os aparelhos apitando estridentemente aquele apito monocórdio da morte, enquanto a enfermeira e o médico fodem selvagemente no quarto contíguo, aquela foda rica em acordes dissonantes da vida.
Mas não foi dessa vez que bati as cachuletas. Aos poucos, a intensidade da luz foi arrefecendo, as pessoas voltando do mundo das HQs para a opaca vida real. Voltei do limbo. Agradeci aos profissionais de saúde e saí pra fumar e retomar minhas atividades e tentar calar os cachorros que latem e as vizinhas que tecem maledicências prejudiciais à harmonia conjugal.
Nota mental: fiz filho e plantei árvore. Lembrar de pedir urgente a devolução dos textos originais àquele editor. Não ouvir o disco 1001 dos 1001 discos pra ouvir antes de morrer.



Ah, e antes qu’eu me esqueça: sifudê, baixinha filha da puta do Poltergeist!

segunda-feira, 18 de julho de 2016

chiste nº 05



-o negócio é putaria, meu irmão. neguim fica nessa de meu amorzinho pra cá, meu chuchu pra lá, meu docinho de coco pra acolá... amorzinho é o cacete! o lance é meter com força, dar tapa na bunda, mandar rebolar, chamar de vagabunda, é isso que funciona, é disso que elas gostam, ISSO é amor. esse papo de andar de mãos dadas na praça, colher flores, correr atrás de borboleta é coisa de afrescalhado que tem nojo de chupar xereca. tem é que cair de língua, meter a cara com vontade, besuntar a fuça até ficar brilhando, tá ligado? fazer a mulher subir pelas paredes de tanto gozar. o que eu queria mesmo é saber falar uma porrada de idiomas, ia pegar geral aquelas gringas gostosas que vão lá no coliseu assistir aos leões comerem os irmãos. ô, se ia.
-mas, Paulo, você não pode dizer uma coisa dessas. os corinthianos podem até gostar, mas os coríntios, arrisca debandarem geral de volta pras barras do saiote de césar. se isso acontecer, o Mestre vai ficar tão puto que é capaz de disparar outro flash na sua cara que vai te deixar cego para todo o sempre, amém.
-tá bom, tá bom, caceta, escreve aí, então: ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine...
melhor: vamos mudar esse final pra aquele do renato russo, fica mais musical e a galera pode cantar em volta da fogueira, enquanto fuma um beck.

chiste nº 04



-infeeeeerno! cacura sem bofe que te apunhala pelas costas depois faz a egípcia é uó. quem essa cambada de motherfuckers pensa que é pra colocar em dúvida minha sexualidade? chego quase a ovular de ódio. tudo bilu com picumã do equê sem nenhum aqué que só quer aquendar, mas quando consegue um bofe, lá uma vez ou outra, passa cheque e espanta o boy. esses suns of a bitch adoram um babado fortíssimo, quanto maior o bafão, melhor. eu sou um súdito fiel de Sua Majestade, sou macho man, em vez de ficarem especulando sobre minha vida sexual, vão fazer um blow job num big dick!
-mas, Shakespeare, não é legal um dramaturgo da sua envergadura dizer uma coisa dessas. aliás, nem você nem seus personagens. os críticos vão cair de pau.
-ok, ok, man, escreve aí, então: ser ou não ser, eis a questão.
*premeditando o óbvio: essa série filosófico-histórico-literária não passa de um apanhado de chistes apalermados e absurdóides, logo, favor não exigir lógica, verossimilhança ou compromisso com a verdade e/ou nada de porra nenhuma.

chiste nº 03



-ora pois, só fico nessa porra desse país de merda, nesse calor dos infernos e aturando essa gente feia, fedorenta e suarenta porque papai ficou de mandar um navio cheio de putas francesas e holandesas que, segundo eu soube, sabem dar até bicicleta em cima do pau. as putas de acá até que não são de se jogar fora, mas, além de banguelas, têm um futum de xereca suja filho da puta. exigi também uma carga do melhor bacalhau e vinho do porto do bom. aí, tudo bem, dá pra aguentar mais um tempo, eu fico nessa caralha.
-mas, príncipe, vossa alteza não pode falar assim. o que dirão os historiadores?
-tá bom, vá lá, vá lá, escreve aí, então: Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico.