domingo, 15 de fevereiro de 2009

Trema, alcaguete!





Embora tremendamente assustado, embora não pudesse evitar o tremor de suas pernas e mãos, embora o suor copioso despencasse testa abaixo e lhe embaçasse a visão, embora a luz tremeluzente emitida pela balouçante lâmpada suspensa no centro da cela obscurecesse ainda mais suas esperanças de sobrevivência futura, embora desejasse ardentemente ir embora, embora silenciosamente maldissesse a voz de sua consciência que o persuadira a confessar sua condição de mandante e, de quebra, a delatar o mercenário pistoleiro que lhe restituíra a honra devidamente lavada com o sangue da adúltera sórdida e do amigo hipócrita, o velho gramático não pôde deixar de pensar na famigerada reforma ao observar o malfadado cartaz de más-vindas que, da parede, aflitivamente tremulava a inexorável e irrecorrível sentença: "Alcaguete merece cacete!"

Carlos Cruz - 15/02/2009