terça-feira, 3 de junho de 2008

A Hora da Caça



Estava encurralado. Correra desabaladamente, tentando escapar. Mas não fora tão rápido. Agora, ali estava, esbaforido, à mercê das criaturas. A primeira a atacar foi a onça pintada, com seus dentes e garras afiadas. Depois dela, vieram todos: o leão, o urso cinzento, o albatroz, a águia americana, o tigre dentes-de-sabre,a harpia, todos com aqueles olhos vidrados, opacos. Devoraram-no, destrincharam sua carne, alimentaram-se de seus órgãos, reduzindo-o a um amontoado de ossos e pele. Sim, deixaram a pele, quase intacta. Trouxeram a palha, com a qual preencheram o espaço dantes ocupado por seus órgãos, ossos e músculos. Agora era um boneco, com olhos vidrados e lustrosos. Penduraram-no na parede e foram embora.
Despertou, num sobressalto, banhado em suor. Recolheu as garrafas de absinto e os instrumentos, jogando-os na lata de lixo.
- Pra mim, chega! Vou ser motorista de táxi. - disse, em voz alta, o velho taxidermista.

Carlos Cruz - 21/06/2007