terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O Caso do Piolho Hermafrodita


Foi acusado de ser o mandante do crime. E de ser narcisista. E de ter caso com a viúva. Tudo mentiras. Calúnias dos oposicionistas invejosos. As declarações da principal testemunha - a joaninha gay - trouxeram à tona a verdade dos fatos: a viúva havia comido o marido, após ser comida por ele enquanto tecia um belo cachecol com gravuras escorpiônicas. De fato, esse ato incomum - ela sempre fazia palavras cruzadas durante a cópula - já deixava transparecer suas intenções maléficas. Sorte a joaninha ser, além de gay, voyeur. Além de voyeur, fofoqueira. Caso contrário, estaria fodido. Hóspede na teia, praticava o auto-coito durante os fatídicos, funestos, trágicos, lúbricos e entomofágicos instantes. Quando amava-se a si mesmo, entrava em transe. Mergulhava em seu próprio mundo, em seu próprio ser, em seu próprio biprazer. Jamais saberia das comidas. Nem do viúva, nem da viúva, nem do escorpião escarlate dotadão de ferrão destruidor de portas de guarda-roupas e arrombador de viúvas. Escapou. Por um triz. Tremeu só de pensar do que se livrara. A terrível morte na câmara de gás, a coisa verde e vermelha com letras em branco. Chamavam de "O Nefasto Baygon". Sentiu outro arrepio na carapaça. Agradeceu a São Louva-a-Deus por atravessar ileso o vale da sombra da morte. Prometeu não mais foder-se a si mesmo, nem chupar sangue de égua no cio, nem desejar pueris cabeludos couros. No primeiro retesamento peniano e vaginal umedecimento, descumpriu a porra toda. Sentiu-se vil. Ignóbil. Execrável. Piolho. Hermafrodita. Quase humano.

Carlos Cruz - 16/01/2008