domingo, 5 de outubro de 2014

Eleições 2014 sob a ótica de um eleitor-leitor que leu o pequeno texto do Bertoldo ou o naufrágio do sufrágio




01) Dilma Roussef - candidata da situação à reeleição cujo partido, antes de se tornar situação, era a melhor opção pra quem desejava uma aurora menos cinza. sempre com cara amarrada, parece pronta a cravar as unhas no pescoço de algum desavisado. passaram-se os anos e ninguém que tenha vivido o antes e o depois pode negar que a coisa melhorou um gole. hoje o povo brasileiro menos favorecido pode ser entregar a luxos dantes impensáveis, como comprar um fardo de cerveja importada. mas o partido, no afã desesperado de se perpetuar no poder, se perdeu e descambou na mesmice pantanosa daqueles mesmos partidos que tanto criticaram no passado. o fim justifica os meios, por mais pestilentos e nauseabundos. lamentável, especialmente para mim que, sendo um eterno lago de paciência, naqueles idos de 1989, por pouco não me engalfinhei com um boçal na defesa do meu ideal representado por aquele ogro barbudo de fala cavernosa e língua presa.

02) Aécio Neves - primo siamês do ex-presidente fernando collor. cara de playboy criado a leite semidesnatado com pera, mamão papaia e sucrilhos kellogs. o fofucho cresceu e, na adolescência, passou a frequentar o iate clube aos domingos, para relaxar e se curar dos excessos das baladas de sábado à noite, regadas à jack daniels com red bull, drogas diversas, muito sertanejo universitário e a mulherada doida pra passear na carroceria da camioneta presenteada pelo papai, aquele mesmo que, de quando em quando, vinha resgatar o filhinho na delegacia. puto, chegava dando esporro: "porra! vocês estão de sacanagem? prender meu filho só porque ele bebeu algumas garrafas de uísque, capotou com o carro e morreram 3 pessoas? foi só um acidente, caralho! eu pago a porra toda! vamos embora, filho, esse pessoal parece que nunca foi jovem. papai dá outro carro, novinho e mais possante, tá?"

03) Marina Silva - chata pra caralho. cara de anfíbio, voz esganiçada, discurso confuso. estivéssemos nos 70 e ela fosse candidata a integrante dos novos baianos, votava nela sem titubear, desde que não cantasse, só compusesse. vejo uma trilha errática em meio à selva difusa nebulosa que vai descambar na sociedade alternativa sonhática. ou não. caso perca a eleição, fecha fácil uma parceria com o rapper criolo.

04) Luciana Genro - sem marina, ganharia o troféu 'mais chata da eleição' sem maior esforço. estuda ciência política na UFRS desde os 05 anos de idade; em casa, papai toma as lições. fez pós-graduação em retórica, mestrado em oratória, doutorado em dialética. poderia ganhar a eleição mas um grave deslize do passado, mancha indelével na sua bela história de vida, torna-a persona non elegível: ela tirou uma foto em cuba, de boina vermelha, com a estátua de che guevara ao fundo. perdeu, maluca.

05) Levy Fidelix - mineiro de Mutum, baixinho, gordinho, bigodudo e macho até a raiz do cabelo que sobrou atrás do cocuruto. se eleito, promete dar um gás, com o apoio do candidato Eymael, na combalida TFP e restabelecer o poder da tradicional família brasileira. seu lema: “a moral acima de tudo”. criará centros de pesquisa e reabilitação hermeticamente fechados para casais LGBT, onde especialistas altamente gabaritados tentarão provar por meio de experiências científicas que aparelho excretor não faz filho e que todo homossexual é útil na forma de adubo.

06) Pastor Everaldo - promete instituir o bolsa-danoninho e o vale-grapete. não sabe o que é previdência social mas sabe tudo de dízimo e gosta muito de púlpito. se pressionado, peida.

07) Eduardo Jorge - sempre que o vejo, penso em Trindade, Paraty. penso em praia, ondas, ondas quebrando na praia, onda, muita onda, viagem à lua, lua cheia, luau, estrelas brilhantes, hippies, dreadlocks, fogueira, alguém toca um violão, dança, roda, tudo roda. areia fofa. fogo colorido no céu. o mundo é lindo. A natureza é nossa amiga. a vida é boa demais.

08) Eymael – não convocado ao debate. menos de 1% das intenções de voto segundo os principais institutos de pesquisa. sabe-se tão só da parceria com o candidato Levy Fidelix no projeto Câmara do Amor Livre, destinado à reabilitação de homossexuais com vistas à reinserção na tradicional família cristã brasileira.

09) Zé Maria – não convocado ao debate midiático. menos de 1% das intenções de voto. inexpressivo. peru de festa. sem nenhuma chance. acha que ficou bem na foto do site do TSE. só isso. mais nada. acabou.

10) Mauro Iasi – vide Zé Maria.

11) Rui Costa Pimenta – vide Mauro Iasi.  

Face às facetas, provavelmente, uma vez mais irei no bom e velho voto-cacareco: zé maria presidente.



quarta-feira, 13 de agosto de 2014

conspiracy theory, invente uma pra chamar de sua




plantão do JN, com exclusividade, é claro: os candidatos à presidência da república aécio neves e dilma roussef foram os responsáveis pela queda do avião que matou o candidato do PSB eduardo campos. o jornal nacional teve acesso, com exclusividade, às gravações telefônicas gentilmente cedidas pela NSA, a agência norte-americana responsável pela interceptação telefônica e internética de milhões de pessoas ao redor do mundo, nas quais aécio e dilma conversam com políticos, militantes e outras pessoas ligadas ao PT e ao PSDB, acertando a vinda de rebeldes ucranianos especialistas no abate de aviões ao Brasil, em um avião da FAB. Segue a transcrição de uma das conversas entre a atual presidente e o presidenciável; através de códigos, em tom descontraído, falam com extrema frieza sobre a eliminação do político rival:


-E aí, brow, tudo certo?
-Nos conformes.
-Os butijucos vêm à selva?
-Tão no vento.
-Vão trazer os pirulitos?
-Só.
-E o passarinho que quer cantar, vai o rabicho balançar?
-Catabloom e cataploft.
-É nós na fita. Quem tasca?
-Ninguém.
-Responde rápido: duas cores bacanas para a auto-foda?
-Verde e amarelo.
-Jacaré no seco anda?
-Esturrica.
-O palhaço, o que é?
-Trelelé.
-Tem culpa eu?
-Todo mundo é inocente porque ninguém sabe de nada.
-Recomendações antes do show das poderosas?
-Prepara.
-Já é?
-Formô.
-Tamo junto e lula lá.
-O escambau, capiau. Beijunda.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Bibliomaniófilo Mocó



gastava todo exíguo dinheirinho que lhe caía nas mãos em livros. devorador de calhamaços, definhava a olhos vistos; o vício relegava a alimentação a patamares secundários na sua escala de prioridades. o corpo, implacável, cobrou-lhe a dívida: esquálido, nos braços da genetriz em prantos, corre os olhos baços pelas abarrotadas estantes do quarto e balbucia: "mãe... no céu tem livro?...". e morreu.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

a ave que cagava diamantes fedegosos, a tipoia e a azáfama



há alguns anos, durante um bate-papo antes do início das aulas com o professor Marcelo Leite na Universidade Severino Sombra, presenciamos uma cena lamentavelmente cada vez mais comum: um funcionário da universidade, seguramente dos mais graduados (e abastados), havia estacionado seu enorme e reluzente carro do ano numa tal posição que "matava" três outras vagas, um claro recado aos demais funcionários reles do campus: "cambada de insignificantes, vão estacionar seus carros populares financiados em quatrocentas prestações em outro lugar. eu sou rico, lindo, inteligente e muito importante, eu sou a pessoa mais importante da universidade, quiçá do mundo todo. logo, ocupo todo o espaço que eu quiser, faço o que quiser, inclusive cagar em suas piolhentas cabeças sem valor." aquele remoto - e esquecível - episódio foi a pedra angular da Teoria da Expansão Espacial do Ego dos Seres Pseudo VIPs na Sociedade de Consumo Contemporânea. Grosso modo, a teoria parte do pressuposto de que quanto mais arrogante, cheia-de-si e besta a pessoa for, mais espaçosa ela é.

ontem, tive nova comprovação da teoria. estávamos eu e minha amiga Suzana Muniz fumando em frente ao Hospital Samaritano em Botafogo, quando um gigantesco Jeep Cherokee assomou à toda e parou com direito à guinada de pneus à porta do nosocômio, precisamente no meio da passagem onde cabem dois veículos grandes, atravancando a porra toda. As quatro portas se abrem simultaneamente e desembarcam quatro orangotangos esbaforidos, tendo o menos corpulento pouco mais de dois metros. Um deles oferece a mão à uma mulher que reconheci no ato pois já a havia visto na TV. a pobrezinha aparentemente tinha torcido o tornozelo e estava acompanhada de outra mulher muito parecida com ela, ou seja, tão esquálida, feia e desprovida de atrativos quanto. a tal acompanhante já entrou reclamando pois cinco segundos haviam se passado e ninguém trouxera uma cadeira-de-rodas à muito-sobremodo-demasiado-pessoa-célebre-rica-famosa-mais-importante-de-todas. o porteiro corre desabalado (azafamado é o termo mais apropriado, certo, Suzana?) para atender à ordem da integrante do séquito.

até aí, tudo mais ou menos dentro do script. contudo, eis que surge um "Corsinha". o motorista aciona a buzina e gesticula, pedindo a liberação do acesso à entrada do hospital. simples: bastava um dos brutamontes entrar no monstro e locomovê-lo poucos metros à frente; ao invés disso, ele limitou-se a olhar de esguelha e com cara de poucos amigos o pobre veículo de pobre, como se dissesse: "você faz ideia da importância da minha patroa? foda-se! trate de esperar!" vendo que a buzina não surtira efeito, desembarca do carro uma senhora muito idosa, deslocando-se custosamente com seu andador. o detalhe que me fez pensar: a idosa sorria. refleti: será que essa moça rica e famosa, cheia de pompa, circunstância e empáfia, viverá tanto quanto essa senhora do carro popular que sorri diante de uma adversidade boba? se viver, com toda a descomunal importância que dá a si mesma, com todo o seu dinheiro e mordomias, impotente ante a ação implacável do tempo, será feliz?

ao final de tudo, fiquei matutando sobre como assim caminha a humanidade e onde descambaremos. uma interjeição seguida de uma expressão não me saía da cabeça, mas sem exclamação, posto que branda. sem nenhuma potência ou importância, qual um programa da rede globo: ai. que loucura.

manoel



cada pessoa é única. cada pessoa é louca. cada pessoa é única e louca, e essa loucura, na maioria das vezes, não só é inofensiva como faz bem para aquele louco e, não raro, para os demais loucos com loucuras diferentes. e o artista, o que é? ladrão de mulher? não, esse é o artista que faz as crianças rirem sob a lona. o artista é um louco especial porquanto dotado da faculdade de materializar sua loucura e submetê-la ao crivo sensorial dos outro loucos, uma tremenda insensatez, diga-se. a arte verdadeira tem convulsões, se contorce, baba, bate a cabeça na pedra, vira massa, se liquefaz e flui, sinuosa, suja, colorida ou negra como o piche, completamente desprovida de convicções e certezas. a arte, para ser arte, deve ser um erro e necessariamente passar ao largo do edifício da razão. por fim, não faço a mínima ideia da razão de estar escrevendo isso. estarei louco?

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Revelação



O Samba morreu.

brigadeiro xavier toma licor de cacau sabor brigadeiro



ninguém é obrigado a brigar nem a obrigar ninguém a brigar nem a brigar com quem não briga nem consigo brigar se não quer nem vê virtude na obrigação de brigar contra quem não se vê obrigado a não ser ou deixar de ser lombriga.

conjunção carnal-advérbio-infernal




entre tantos entretantos
perambulando por aí
trôpegos todavias
contudos cheios de si
emboras que não visitam a tia
no entantos que olham de soslaio
adredes de cara pra parede
algures pretensamente alhures
ceando em casa de sampaio
sita porventura lá pras bandas
do longínquo nenhures
porém, sempre vem o porém
acabar com a festança
à proporção que fode assaz
a cachola rubro-cornuda de satanás
zonzo, cara escarlate, vaza
zás-trás!
embora pr'os outroras
zamora, beleléu, conchinchina
fedentina casa das prima
sempiternos quintos dos infernos
porquanto o tacho está fervente
urge preparar gramáticos crentes
picantemente
alegremente
al dente.

Carlos Cruz - 05/02/2014

valium



a vida

ávida


comeu


vícios


bebeu


vodka


vomitou

virtudes vis

varreu

verdades vãs


viajou de avião

volitou na aluvião

tamborilou o violão

e teve um avc


Carlos Cruz - 03/02/2014