segunda-feira, 4 de junho de 2007

A Intrincada Trinca ou Escatológica Loucura



Artur era obcecado pelo número três. Seus hábitos, seus gostos, suas compras, tudo em sua vida obedecia à regra do três. Ia três vezes seguidas ao cinema assistir o mesmo filme. Lia o mesmo livro três vezes. Comprava três peças de roupa exatamete iguais. Sapatos? Comprava três pares. Adaptou o velho adágio à sua loucura: um era pouco, dois era insuficiente, três era a perfeição.
A explicação para tal comportamento estava na infância de Artur, precisamente aos onze anos: sua mãe, católica fervorosa, ao flagrá-lo se masturbando, fê-lo passar horas ajoelhado sobre grãos de milho, rezando centenas de Padres-nossos e Ave-Marias, olhando fixamente para a imagem da Santíssima Trindade.
Ironicamente, Artur nascera no dia três de março de mil novescentos e setenta e três. Hoje era uma data especial: fazia trinta e três anos. Pedia uma comemoração especial. Convidou Osvaldo, seu amigo, para a festa em sua casa. Pediu à Vanessa, sua esposa, que usasse aquele vestido vermelho, tão apreciado por ambos. Após esvaziarem três garrafas de vinho, partiram para o ménage a trois, sob protestos de Vanessa, que estava menstruada. Alguns poucos beijos no pescoço foram suficientes para convencê-la. Foram três horas de sexo selvagem, regado à vinho, sangue e esperma. Apesar da dificuldade – não era mais um adolescente – Artur conseguiu ejacular três vezes. Foi quando viu a mancha de sangue e esperma sobre o lençol e não teve dúvidas: subiu na cama, agachou-se e defecou sobre a mancha. Osvaldo e Vanessa sairam do quarto, apavorados, vestiram-se e se retiraram da casa o mais rápido que puderam, o cheiro de merda era insuportável. Artur ficou lá, observando sua grotesca e fétida obra: sangue, esperma e merda. Daria um quadro, pensou. Poderia se chamar: “A Escatológica Tríade”. Tal pensamento causou-lhe uma nova ereção. Súbito, o ambiente à sua volta se modificou, tornando-se a sala de sua antiga casa. Tinha novamente onze anos. Diante de si, a Santíssima Trindade, com Deus à direita, fitando-o com seus olhos flamejantes, repreendendo-o por seus pecados. Caiu de joelhos, prostrado. Sentiu a dor lancinante, os grãos de milho perfurando sua pele. Começou a rezar...
Vanessa voltou no dia seguinte. Artur estava no mesmo lugar, ajoelhado diante do excremento, o olhar vazio, rezando, balbuciante: “Pai Nosso que estais no Céu...” Ante aquela surreal e deprimente cena, ela não conteve a tripla exclamação:
- Porra! Caralho! Buceta!

CARLOS CRUZ – 04/06/2007

Vôo Noturno






O comprimido o fez sentir-se leve. Olhou para o céu, escolheu uma estrela, ruflou suas asas e saltou...
Os bombeiros tiveram enorme dificuldade em recolher os pedaços do corpo. Alguém ouviu um deles murmurar: "Filho da puta. Por que não deu um tiro na cabeça?"

CARLOS CRUZ - 27/05/2007

DIA DOS PAIS






Olhou o bebê através do vidro - uma criança linda. Sua esposa dormia no quarto ao lado. Uma enfermeira deu-lhe parabéns. Fôra uma decisão difícil, tomada após o resultado do espermograma. Ligou para seu amigo Ricardo, o pai: "Traz o charuto. Acabou de nascer."

CARLOS CRUZ - 09/05/2007