segunda-feira, 4 de maio de 2009

A Peste





Primeiro, foram os gatos sem rabo. Depois, vieram as galinhas peladas. Estranhas manchas azuis surgiram no corpo das vacas. Cavalos apareceram totalmente sem crina. Atônito, o fazendeiro contratou, de uma só vez, os serviços do veterinário, do padre e da rezadeira. Em vão. Fosse zoonose rara, diabo zangado ou invejoso mau-olhado, a verdade é que nada tinha mudado. Era muita conjectura para nenhuma solução. Antevendo o pior, o fazendeiro cogitava escambos, compras e vendas imobiliárias, quando um berro delator elucidou o mistério: Pedrinho, o filho do caseiro, serrava o chifre do bode, que, nada satisfeito com a desonrosa mutilação, alardeava ao quatro ventos o torpe crime em andamento. Dona Maria, mãe de Pedrinho, de chinela em riste e vociferando imprecações, surge em cena, no exato momento em que o pequeno peralta debanda velozmente para as bandas do chiqueiro. Encolhido em meio à podridão fedorenta, ouve a voz ameaçadora de sua genitora: "Cadê aquela peste? Quando eu puser as mãos nele, ele vai ver o que é bom pra tosse!" Foi quando Pepe, o porco, sonora e nefastamente, espirrou.

Carlos Cruz - 03/05/2009