terça-feira, 26 de junho de 2007

O Balão





-Puta que pariu! Que sujeira! - exclamou a empregada, ao deparar-se com os pedaços de carne e todo aquele sangue ao longo das paredes, dos móveis e do teto. O computador estava ligado. Limpou o monitor. Aturdida, leu a seqüência interminável de elogios à poesia de seu patrão, conhecido na vizinhança e nos meios acadêmicos como "João, O Balão". Vira acontecer várias vezes, elogios o faziam, literalmente, inflar. Críticas negativas surtiam o efeito inverso. "Esses médicos filhos da puta não servem para nada. 'Sr. João, sua doença é nova. É o primeiro caso registrado nos anais da Medicina...' Vão todos tomar no cu, ou melhor, vão tomar nos anais deles" - ouvira-o esbravejar, certa vez. Olhou o monitor novamente. "É. Parece que esta agradou geral... Coitado do Seu João. O sucesso, que ele tanto queria, acabou fazendo-o estourar." - pensou, enquanto retirava um pedaço de intestino de sobre o teclado.

Carlos Cruz - 25/06/2007