domingo, 30 de dezembro de 2012

O Segredo de Lia




Lia
dizia
que não lia
porque não
gostava
de ler
mas
o que
ninguém
sabia
é que Lia
não lia
porque
não sabia
ler.

Carlos Cruz - 31/12/2012

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

iPhone 5


o besta
desembesta
ou quiçá, çá, çá
defenestra
na poeira das vaidades
bestas
e atuais, mais
que atuais

os ancestrais
cambalhoteiam
inutilmente
pra frente
pra trás
qual idiotas

os devotos
do black metal
dão saltos
camisas pretas
acham demais!

mas, ademais, existe a luz
no fim do túnel
da Tunísia
pour elise
eu faria tudo, tudo

coesão, coerência, clareza
o importante é ser feliz
na cama
o mais, é o amor
só o amor
que conhece o que é verdade

a verdade dói e mói e corrói e destrói
mas isso é bom e agradável
exceto ao platão

seja bem-vinda, ruidosa bofetada!
bate outra vez, coração!
a mão que balança o berço
envolve e cabe perfeita na masturbação

o ego rebelde não quer rebentar
diz que há os tais maiorais
déspotas e tarados
cheios de pênis eretos
no lugar dos pelos
glândulas invertidas

pelas barbas de netuno!
levantai, unamuno!
semeai a discórdia e a dúvida
entre os homens bicudos
jegues-justos-obtusos
cheios de hemorróidas
enfiados em ternos justos
absurdamente demodés

quem dera ser um peixe
para expor em riste a guelra média
ao anzol pontiagudo
imerso, babacamente
pelo babaca-mor

que o mundo acabe em buceta
de mulher tesa
para morrermos encharcados

felicidade é algo mais que uma maçã eletrônica.

Carlos Cruz - 20/12/2012

cordel zoo-caprino-teso sem telefonema no dia seguinte



o cabra da moléstia molestou a cabra insensível que, desapegadamente, cagou para ele. pérolas negras, precisamente, sem te amo, te amo.

Carlos Cruz - 20/12/2012

Astronomy Domine



e eis que a raça humana adentra o limiar de uma nova era. irmãos, não temam o porvir pois nada é tão ruim que não possa piorar, disse o pajé nimbu negro no dia em que tupã espirrou furioso os ventos que sopraram e derribaram nossas tabas, despertando os deuses que montados em nuvens escuras despejaram sua raiva em forma de grandes faíscas luminosas, quentes e mortíferas. a selva, a terra, os filhos da terra, tudo virou cinzas. mas a deusa da fertilidade e da beleza chorou lágrimas de dor e sangue à vista dos cadáveres fumegantes da mãe natureza. a fumaça fedorenta da destruição fez o fluxo aumentar, as lágrimas irrigaram a terra árida que virou barro e lama. a vida brotou novamente, primeiro o verde, depois outras cores e nuances e por fim, os fungares espreguiçantes. o ciclo se repete, sempre. vida produz morte que produz vida que produz morte. transponde o portal, irmãos, sem temor, sem rancor, sem pudor. a grande orgia milenar vai começar!

Carlos Cruz - 20/12/2012

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Os Normais




o bando aproximou-se cautelosamente do sem-noção que incutia medo por ser imprevisível. com o tempo, a convivência despiu a aura aparentemente nociva do sem-noção, o bando viu que ele era bom. nem era assim tão imprevisível, tava mais pra porra-louca. passaram, inclusive, a compartilhar algumas sem-noçãozices ou porra-louquices, definitivamente, o sem-noção era sangue-bom. mas, daí, chegou o coberto-de-razão e fodeu a porra toda. despejou uma carreta de argumentos absolutamente inatacáveis e ainda irrefutáveis que pareavam o sem-noção ao demônio mais vil e ignóbil lá dos quintos dos infernos. nada restou ao bando senão desprezar o sem-noção. nada restou ao sem-noção senão aceitar sua fatídica condição. o podre voltou à podridão. o tempo passou e o bando voltou a sorrir pois todos, indistintamente, tornaram-se cobertos-de-razão. quando em quando, brigavam, mas a razão falava mais alto. sempre.

Carlos Cruz - 16/11/2012

domingo, 16 de dezembro de 2012



fé.

substantivo feminino
1 Rubrica: religião.
no catolicismo, a primeira das três virtudes teologais
2 sistema de crenças religiosas; religião
Ex.: fé cristã
3 confiança absoluta (em alguém ou em algo); crédito
Ex.: um homem digno de fé*
4 Rubrica: escatologia, calendário Maia, fim do mundo.
nome de um raio poderoso semelhante ao raio laser dos filmes de ficção científica, que sai do olho dos crédulos e destrói meteoros gigantescos em rota de colisão com a Terra.
Ex.: Tentaram, a todo custo, controlar o pavor que paralisava seus corpos e suas vontades; desejaram com força a destruição do meteoro; alguns defecaram nas vestimentas mas outros lograram produzir o raio. O meteoro explodiu em trilhões de diminutas estrelas que iluminaram o firmamento. Era o início de uma Nova Era para a Humanidade.

* extraído do dicionário Houaiss

Carlos Cruz - 16/12/2012

adágio torto


pau que nasce torto nunca se acanha ante um reto.

Carlos Cruz - 16/12/2012

sábado, 15 de dezembro de 2012

é big! é big! é hora! é hora!



nos distantes idos dos outroras juvenis, escritores melancólicos enxotavam seus corvos com asas de graúna e apetite for destruction para dentro do meu cérebro pulsantemente confuso, convencendo-o - e ao resto de mim - que a vida era um enorme monturo de merda de vários gatos preguiçosos embrulhado em um véu colorido com aroma de jasmim. intermitentemente e sem dó bicavam minha cachola, até acenderem os candelabros da razão-que-não-se-cala: os bons da literatura, do cinema, da música, de toda arte que vale à pena, morrem jovens. não demorou e a certeza veio, indefectível, incandescente, luminosa e sorridente: não quero passar dos 40. com toda a solenidade que o momento exigia - tinha 17 anos, porra! - comuniquei meu desejo à mamãe, que ficou me olhando com aquela expressão de "coitado do meu filho... maluquinho, maluquinho... também, passa o dia inteiro lendo..." bom, o tempo passa, o tempo voa e a poupança bamerindus? a meia-idade chega e muda a porra toda. morrer antes dos 40 o escambau! eu quero é rosetar, beber, fumar, comer, cagar! quero descobrir a pedra filosofal, se existiu mesmo esse tal de cabral, se quem vence a batalha, no final, é o bem ou o mal, se entre a branca de neve e os sete anões rolou um furimfumflau. trinta minutos me separam da virada fatal. rezem, orem, persignem-se, prostrem-se, façam preces por mim. se chegar aos 41, a cerveja e o amendoim japonês são por minha conta.

Carlos Cruz - 14/12/2012

sábado, 1 de dezembro de 2012

Pedido de Demissão



"cansei dos olhares, dos sorrisos maldosos, dos balbucios vis. cansei dos holofotes ofuscantes, dos aplausos falsos. cansei de ser diferente. quero ser apenas mais um lugar-comum na multidão dos iguais. um puído clichê. quero vestido curto preto básico, sombra e rímel, sandálias de salto alto trançadas nos tornozelos. quero beber a vodka com energético que todos bebem, engolir o comprimido estimulante que todos engolem, dançar o bate-estaca que todos dançam, sortear meu sexo para quem o quiser. quero minha vontade fluida, volúvel, meu desejo banal, fútil, meus anseios palpáveis, inúteis. quero virar coisa, mais um objeto humano para ser consumido até a vida útil acabar, queimar como fogo de artifício, fugaz e multicor, em meio a centenas de outros, explodir, anônima e feliz pela escuridão que se avizinha. quero o glamour do não-existir, a paz do não-ser. o silêncio e o breu, é só o que quero. estou farta. desisto. peço demissão."

sofia, ex-mulher barbada

Carlos Cruz - 01/12/2012