sábado, 30 de março de 2013

outdoor lugar-comum-de-dois


sou mais ou menos branco (vovó materna era caiapó), heterossexual, ateu não-praticante, flamenguista meia-cuié, tenho o peito cabeludo mas raspo o saco - por amor - pra agradar à patroa (coça pra carái), fumo cigarro de filtro amarelo, bebo fermentados, acredito na esquerda vesga, como a gordurinha do bife e a pele da sobrecoxa de frango, sei tocar os hinos da harpa cristã no saxofone, coço o cu e cheiro como todo mundo, ouço bach e flutuo, pago impostos - puto - mas sem reclamar, devolvo o a mais do troco com dor de corno por ser honesto, acho a bíblia um puta romance histórico, solto sonoros peidos matinais quando estou só, vejo filmes cabeça pra me achar culto e descolado mas prefiro os blockbusters de todomundo, nunca mando ninguém se foder, trabalho pra manter minha vidinha chinfrim e custear meus pequenos luxos - livros, livros, livros, vejo pornografia na internet como todo macho e macho nem tanto, arranco o filete de carne agarrado no vão dos dentes com os dedos, gosto do sexo esquisito que agrada a todos mas poucos admitem (nada contra mas, a coisa é subjetiva pacas, sem viadagem), leio calhamaços pelo desafio, as sacolinhas azuis na igreja sempre me envergonharam e marcos feliciano não me representa.

Carlos Cruz - 30/03/2013

Pintura: Shawn Barber

domingo, 24 de março de 2013

dorgas



tremores, alucinações, boca seca, palpitações, delirium tremens, coração na calvaria pulsante, olhos nos olhos boquiabertos. o sol gélido empretecido. a lua carcará sanguinolenta coruscante. antes que sobrevenha o esquizoide catatônico que tudo sabe,a iluminação regozijantemente nauseabunda, a bunda retrátil que retrata e sorri e o rigor mortis, vos digo a vós que escutai a voz: dorgas. largai. enquanto Seu Lobo não vem.

Carlos Cruz - 24/03/2013

quarta-feira, 20 de março de 2013

Balzac sem SAC


deus, o todo-poderoso-de-olhos-chamuscantes, materializou-se em minha bacanal onírica e, esbanjando austeridade e vozeirão de trovão, mandou a letra, na lata: "quereis usufruir os prazeres e dissabores da vida mundana ad infinitum? comprai e lede balzac. enquanto não exaurirdes a comédia humana, vosso espírito permanecerá encerrado no cárcere que expele vapores nauseabundos, a sorrir pateticamente de sua própria vileza." eu, que não sou bobo nem nada, antevendo-me um highlander de espada flamejante sempre em riste, relampagueando a la he-man, acresci proust à lista e cliquei no botão comprar. foi aí nesse ínterim fatídico que o pequenino avatar brotou no canto esquerdo inferior do vídeo. evitei encarar os olhos-de-fogo pra não virar estátua de sal ou churrasquinho de carvão, mas o cabeludo barbudo grisalho sorridente, sem mais e de repente, foi ficando enrubescido, à proporção que o ígneo dos olhos enegrecia a olhos vistos. não tardou e a possibilidade de mirá-lo sem os receios pétreos iniciais deu o ar de sua graça, devidamente acompanhada e assistida pela recém-manifestada nefanda constatação: eu me fodera. o barbudo era o chifrudo de cavanca, rabo e cascos de bode. "me chamo mefistófeles. que prazer te conhcer!", disparou o sem-mãe, entre risadinhas zombeteiras. mas nem, pensei. morro, mas morro letrado, entupido de cultura a peidar literatura. "aqui jaz carlos cruz. ele leu balzac." ui. de mais a mais, vamos e venhamos que um livro com esse nome deve ao menos possuir algum humor. foda-se o capiroto traíra filho da puta e suas traquinagens de sérgio malandro glu glu ié ié. eu vou ler essa caralha. se à palavra fim inda houver respiração, emito minha opinião. se não, boiemos na crista do aluvião, sentemos sensatos à sombra do pé de feijão e, com unhas e dentes, destrinchemos carinhosamente nossa adorável auto-aberração. tudo é ficção.

Carlos Cruz - 20/03/2013

quinta-feira, 7 de março de 2013

pastor joão II, a revanche




"esse pessoal que fica reclamando em rede social não sabe fazer campanha. cambada de imbecis. o sujeito pode até ser trouxa, isto é perfeitamente aceitável, mas trouxa e burro aí já é demais! pra uma campanha ser valorizada e bem-sucedida tem que rolar cascalho, tiricutico, bufunfa, dindim, grana, arame, bolsa, cabedal, capim, capital, caraminguá, cascalho, cobre, erva, gaita, grana, metal, numerário, pecúnia, pila, prata, tostão, tubos, tutu, verba. lembram daquele filme, o tropa de elite? eu não vi porque tem muita violência e corrupção, mas minha mulher viu e disse que tem um personagem que diz uma frase que cabe muito bem aqui nesse meu mini-manual de como fazer uma boa campanha: "quem quer rir tem que fazer rir". é bem por aí, a obra de deus não pode ficar parada. se não me querem na comissão, façam uma doação, ora bolas. aceitamos dinheiro, cartão, cheques pré, vales-transporte, tíquetes-refeição, eletro-eletrônicos, móveis, imóveis, automóveis, cadeiras-de-rodas, próteses, óculos, bengalas, muletas, olhos de vidro e fotos do führer autografadas. tudo para a honra e glória do nome do Senhor. amém?"

pastor m. "feliz" f.

quarta-feira, 6 de março de 2013

lavoura só





mãos calejadas do labor braçal de sol a sol, benedito vestia camisinhas para não machucar o milho durante a debulha. michel, o filho do patrão, vivaz, sagaz e cheio de frescor adolescente, contrariado e salivantemente, classificou a técnica de "o cúmulo do forever alone agrícola". rechaçado ao oferecer a solidária mão, remoendo mesquinhez e cólera, retaliou: criou um meme de benedito debulhando o milho e semeou na internet.

Carlos Cruz - 06/03/2013