segunda-feira, 18 de novembro de 2013

manual para fazer Martin Luther King dançar break na cova




vire político;
dê seus pulos e seja eleito;
cole com colegas que estão há mais tempo na sacanagem, observe e aprenda;
participe de toda sorte de maracutaias, sempre, jamais recuse participar;
ganhe muito dinheiro e esconda-o bem escondido, de preferência em países que ninguém conhece;
ludibrie o fisco;
ascenda na carreira;
repita cem vezes ao dia, todo santo dia: "eu sou honesto", até sentir que você se auto-convenceu disso (sua convicção será fundamental quando necessitar persuadir outros do seu caráter ilibado e da sua conduta irrepreensível);
jamais faça troça dos otários que pagam seus luxos, lembre-se que qualquer pé-inchado tem um celular com câmera hoje em dia;
se a casa cair, faça cara de bebê cagado, chore, chore muito, chore a cântaros, olhe para os céus e brade: isso é uma injustiça! isso é perseguição política! eu sou inocente!;
escreva um manifesto que contenha as seguintes expressões: preso político, perseguição, vítima, ditadura, censura, 1964, doi-codi, tortura, História, povo, liberdade; se puder, acrescente mártir, Araguaia, Vladimir Herzog e Gramsci;
contrate advogados safos que conheçam os tais meandros da lei, especialmente as chamadas 'brechas';
por fim, ao ser preso, diante dos holofotes, das câmeras e dos flashes, faça o famoso gesto dos Panteras Negras.



p.s. prepare seu retorno triunfal.


Carlos Cruz - 18/11/2013

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

pesadilla


sonhei que Mark Chapman, o assassino de John Lennon, descarregava uma pistola desert eagle .50 no cangote do cantor naldo durante uma apresentação no programa da regina casé. corta para o segundo ato: caixão forrado com a bandeira do flamengo, cortejo de djs e mcs da moda, trajando bermudas pretas largas exibindo 4 dedos de vala, ao som do réquiem em ré menor de mozart em ritmo de funk carioca. lembrete: evitar ingerir sopa de inhame e ler Schopenhauer antes de dormir.


domingo, 1 de setembro de 2013

escrever & servir


o escritor quer escrever em paz, sem censura, sem frescura, sem papas, sem tesoura e sem lei; mas o polícia chato de cara amarrada e olhar fuzilante fica o tempo todo apontando e reprovando: "isso não pode! isso não deve! você tá cansado de saber que os leitores misturam alhos com bugalhos, leite com manga, putaria com sacanagem, obra com obreiro... lembre-se que os tempos não estão para liberdades criativas; foi-se a ditadura mas ficaram os patrulheiros ideológicos e suas bandeiras politicamente corretas; os censores brandirão seus archotes da razão irreprochável, torcerão o nariz e esbravejarão: 'ele é policial! como pôde escrever uma coisa dessas, criar um personagem desses?' vão pregá-lo numa cruz, senhor carlos cruz." polícia mala. vai prender vagabundo e me deixa escrever, porra!

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

polícia para quem não precisa de polícia



a função precípua da polícia civil, ou polícia judiciária, é apurar as infrações penais, aqueles fatos - por 'fatos' entenda-se algo que já aconteceu - definidos por lei como crimes ou contravenções penais. logo, tal atribuição NÃO inclui:


01) apurar crimes que ainda não aconteceram. o crime ou contravenção tem quatro fases sequenciais: cogitação, preparação, execução e consumação. o candidato a meliante tem a ideia do crime, decide pô-la em prática, traça seu plano diabólico, inicia os preparos e parte para executá-lo. se bem-sucedido, o crime se consuma. caso contrário, responde pela tentativa. a lei brasileira pune o criminoso somente a partir dos atos de execução. portanto, não, a polícia não é obrigada a agir porque você acha que seu vizinho pode lhe ferir ou matar ou fazer qualquer mal a você porque ele, cujas feições lembram muito as do monstro do doutor frankenstein, olha para você de cara feia.



02) apurar crimes impossíveis. embora muitos - dentre os quais habitués da Serra da Beleza, Chapada dos Veadeiros e Chapada dos Guimarães, bem como assinantes da revista UFO e leitores de erich von daniken - possam discordar, não, a polícia não tem o dever de lhe proteger porque os alienígenas espalharam câmeras invisíveis por toda a sua casa e podem a qualquer momento lhe abduzir e fazer altos e excitantes experimentos sexuais com você enquanto deslizam pela via láctea.



03) dar susto. uma das não-atribuições mais requisitadas pela clientela, especialmente por vítimas de violência doméstica: "sabe, doutor, meu marido não é uma pessoa ruim. ele só fica violento quando bebe. e ele bebe todo dia. daí ele me bate. mas eu não quero prejudicar ele não. eu amo ele. só queria que a polícia desse um susto nele pra ver se ele para de me bater." não, minha senhora, lamentamos informar que a polícia não dá susto. embora seja certo que eles seriam de enorme valia à instituição, não, o conde drácula, o lobisomem, a múmia, darth vader, satan goss, gasparzinho e o fantasminha pluft não integram nossas fileiras. é até verdade que temos alguns colegas na casa que antes de descerem à terra entraram na fila da feiúra várias vezes, contudo, malgrado involuntariamente sirvam para provocar choro em bebês de colo e dispensem dedetização nos locais onde trabalham, assustar maridos agressores não faz parte do seu rol de atribuições.

04) apurar crime ou contravenção penal que não é crime nem contravenção penal. se a lei define isso ou aquilo ou aquiloutro como crime ou contravenção, então, sem a menor sombra de dúvida, isso, aquilo ou aquiloutro É crime ou contravenção. se não, não. a polícia judiciária não tem que intervir:



a) se você acreditou no garoto-propaganda da casas bahia quando ele, com aquele sorriso idiota, afirmou que você poderia pagar quanto quisesse naquela linda cozinha bartira;

b) se o farmacêutico estava caindo de bêbado mas ainda assim lhe vendeu o medicamento correto;

c) se a professora disse que seu filho - cuja maior nota foi um 2 em educação artística - tinha déficit de aprendizagem mas (embora até pudesse estar pensando) em nenhum momento o chamou de jumento;

d) se seu marido comeu aquela secretária loira que tem um litro de silicone em cada peito, usa sumários tubinhos, tem piercing do tipo penduricalho no umbigo e uma tatoo tribal logo acima do cofre;

e) se você contratou o canal sex gay mas a sky só disponibilizou o canal de putaria hétero;

f) se sua filha de 16 anos topou alegremente um gangbang com todo o time de futebol do colégio no vestiário do clube;

g) se você chegou em casa e flagrou sua mulher e três afrodescendentes que poderiam facilmente ser confundidos com seu guarda-roupas e cujas envergaduras somadas ultrapassavam fácil 70 centímetros, praticando sexo animal no seu leito de amor conjugal;

h) se sua vaidade masculina foi massageada pela possibilidade de aumentar seu bilau com a super-ultra-mega-sensacional bombinha big pênis, expectativa frustrada pela constatação de que aquela coisinha minúscula e ridícula, por mais que sua mão esteja dormente de tanto bombear, continua e continuará ridícula e minúscula;

i) se o morador do 701 soltou uma bufa fétida no elevador que quase levou você à lona quando houve aquele blecaute de 20 minutos;

j) se você ficou atônito e amedrontado quando soube na curimba que frequenta às sextas, por meio do relato fidedigno da dona maria padilha das sete encruzilhadas do rodoanel, que uma das amantes do seu marido fez um trabalho 'indesfazível' para costurar espiritualmente e para todo o sempre a sua linda e rechonchuda vulva;

k) se você, ao chegar da vernissagem ou do shopping, deparou-se, horrorizada, com o vira-latas pulguento do vizinho engatado e babando em cima de adriane, sua cadelinha poodle que para você é muito mais que uma simples cachorrinha, é sua filhinha querida super bem-tratada à base de ração inglesa e shampoo francês;

l) se o ogro sujo, cabeludo e tatuado que mora perto da sua casa não separa as latas vazias de cerveja das garrafas de pinga das guimbas de cigarro dos restos de comida quando joga fora o lixo;

m) se você todos os dias se vê forçado a escalar o morro mais alto de sua cidade para falar ao celular com sua mãe que mora em santo antão do horizonte infinito;

n) se você, bêbado como um gambá, foi implacavelmente sodomizado naquela bacanal em que topou participar;



não. definitivamente não. seu problema é enorme, gigantesco, um problemão, mas não é previsto nem definido como crime ou contravenção na lei penal brasileira, logo, não é caso para a polícia. o policial pode se compadecer e até mesmo sentir ganas de fazer algo para tentar resolver sua questão, mas ele sabe que não pode fazer isso. tomar para si o encargo de outro funcionário público é usurpação de função pública e isso é crime. mas não fique aí parado, reclamando que ninguém faz nada para ajudá-lo. o chapolim colorado não vai aparecer e chamar os bons para seguí-lo. informe-se e procure o órgão nas esferas administrativa, civil, órgãos de classe, o judiciário, o batman, o justiceiro, etc., busque quem tem a atribuição, o dever de ouvir sua reclamação e tomar providências no afã de reparar a tremenda injustiça que você sofreu. pense também sobre a possibilidade de aceitar jesus, apagar a luz, usar brinco de cruz ou comer cuscuz, senhor(a) avestruz.



Carlos Cruz - 29/08/2013

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Woody Woodpecker



não me julgue
mal
o poeta é
sem sal
picareta
cara-de-pau

não almeja
o pedestal
não deseja ser
o tal
não aspira
ao capital

não quer saber
de bacanal
não o leve
ao sarau
apenas mude
de canal

tudo bamba
tudo samba
tudo bomba
tudo tomba

igual

no país do carnaval

Carlos Cruz - 16/08/2013

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

onde estão as caleças, os tílburis?



de repentemente, a ficha caiu e ele sacou que sua mania de enaltecer o passado a torto e a direito, sua reputação de mancebo useiro e vezeiro em usar expressões em desuso e sua franjinha pega-rapaz nada tinham de supimpa e o tornavam um chato de galochas; jamais desposaria uma mademoiselle mimosa e prendada; embora se arvorasse à conta de gentil-homem, não passava de um janota, daria sempre com os burros n'água; forçosamente, teria de se ater, quando muito, a furtivas chumbregações com as cabrochas da cidade baixa.

Carlos Cruz - 13/08/2013

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

lugar comum







por quê
toda dor tem que ser dilacerante
toda lágrima tem que ser copiosa
toda regra tem que ser clara
todo erro tem que ser crasso
todo sol tem que ser escaldante
toda estupidez tem que ser gritante
toda burrice tem que ser porta
toda estrovenga tem que ser torta
todo nu tem que ser castigado
todo leite tem que ser derramado
todo moribundo tem que ser desenganado
todo cristo tem que ser crucificado
todo lar tem que ser casa
toda cova tem que ser rasa?

Carlos Cruz - 02/08/2013


quinta-feira, 18 de julho de 2013

amor próprio



amo-te
de um jeito
só meu

sem parada
sem charada
sem trovoada

amo-te
de um ímpeto
só meu

sem bordoada
sem almofada
sem saraivada

amo-te
de um tempo
só meu

sem jangada
sem pincelada
sem alvorada

amo-te
de um barulho
só meu

com batucada
com gargalhada
com patuscada

amo-te
de um amor
só nosso

Carlos Cruz - 18/07/2013

onã anão



onã
toca tantã
pela manhã

no sexo
a febre malsã

na cabeça
o sutiã

onã
toma leite nan

onã
admira o kleber bambam

onã
pensa que tupã é marido de iansã

onã
não come maçã

Carlos Cruz - 17/07/2013

domingo, 7 de julho de 2013

quinta-feira, 20 de junho de 2013

joão grandão




o banco
foi feito pra você
senta
senta
senta

o gigante
fumou
o bagulho
punk
de alcatrão
lá na prisão

o gigante
tá grandão
tá doidão
tá gigantão


joão, não
tá vendo
a copa
do pé
de feijão
sensaborão

o gigante
é grandão
e tá putão

joão, não
joão só vê
televisão

e agora, joão?

Carlos Cruz - 18/06/2013

quarta-feira, 19 de junho de 2013

sexta-feira, 26 de abril de 2013

El Ingenioso Hidalgo Don José de la Portela



Num vilarejo perdido no cume das distantes montanhas do Reino Esquecido de Miguel Pereira, vivia um fidalgo que diuturnamente se dedicava à laboriosa tarefa de medicar notebooks enfermos e ressuscitar computadores mortos. Conquanto seu mister não o desgostasse, o jovem, dado a leituras de livros de cavalaria revolucionária e farto dos desmandos e tiranias de Sua Majestade, o Rei Rói, e dos seus sectários, que se autodenominavam Os Cavaleiros da Távola Quadrada e cujo lema não deixava dúvidas quanto ao modelo -dito democrático - governametal adotado: "farinha pouca, meu pirão primeiro.", decidiu agir. Imbuído do espírito guerreiro dos seus antepassados, limpou, com escova de aço e kaol, a ferrugem da velha armadura do seu finado avô, lançou mão da faca de churrasco à guisa de espada, a tampa da lixeira lhe serviu de escudo, da velha piaçava fez sua lança e assim, devidamente paramentado, montou seu Rocinante VW Fusca 1973 que reunía a força de 1300 cavalos em apenas um, e partiu para a guerra, em nome de sua musa, a combalida, rota mas inda bela Democracia del Toboso. Alguns diziam-no louco, outros faziam troça, chamavam-no O Cavaleiro da Triste Figura, ninguém acreditava nele. Mas Don José de la Portela era brasileiro, miguelense, portelense, intrépido, sagaz, indômito, amava sua cidade e sua família (o adesivo no vidro traseiro de Rocinante clamava em caixa alta esse apreço) e não desistia jamais. Poucas luas após o início de sua aventura, a Providência, que assiste os homens de coração bom e caráter retilíneo, ofereceu ao desacreditado cavaleiro a oportunidade de mostrar a todos - nobres e plebeus - seu enorme valor. Pairavam sobre a reluzente coroa de Sua Majestade graves suspeitas de mau uso do erário real na contratação de carroças destinadas a recolher o lixo feudal, falava-se em favorecimento ilegal ao suserano de um reino vizinho. O Povo clamava por esclarecimentos. Foi marcada, então, uma assembleia na qual decidir-se-ia quanto à instauração de procedimento investigatório em desfavor do monarca. O Povo acorreu em massa e lotou a audiência, gritando palavras de ordem. A vassalagem não destoou nem surpreendeu, vassalo é vassalo. A grande surpresa ficou a cargo de nosso intimorato fidalgo que, malgrado as severas ameaças - que incluiam degredo, bastilha e guilhotina - proferidas pela Ordem dos Cavaleiros Encarnados, à qual era filiado, votou, em meio a lágrimas profusas e reminiscências das façanhas do avô, o Duque del Futurista, e para desgosto do Monarca e seus asseclas, a favor do investigatório. A turba foi ao delírio. O outrora chacoteado Cavaleiro da Triste Figura foi carregado nos ombros pelos populares, heroi merecidamente aclamado cujo novo cognome condiz melhor ao seu brio, à sua coragem e caráter: O Cavaleiro da Esperança. O final da novela ainda está por contar, todavia, uma coisa é certa: não há mais bobo de bobeira no Reino de Miguel Pereira.
Carlos Cruz - 19/04/2013

sábado, 30 de março de 2013

outdoor lugar-comum-de-dois


sou mais ou menos branco (vovó materna era caiapó), heterossexual, ateu não-praticante, flamenguista meia-cuié, tenho o peito cabeludo mas raspo o saco - por amor - pra agradar à patroa (coça pra carái), fumo cigarro de filtro amarelo, bebo fermentados, acredito na esquerda vesga, como a gordurinha do bife e a pele da sobrecoxa de frango, sei tocar os hinos da harpa cristã no saxofone, coço o cu e cheiro como todo mundo, ouço bach e flutuo, pago impostos - puto - mas sem reclamar, devolvo o a mais do troco com dor de corno por ser honesto, acho a bíblia um puta romance histórico, solto sonoros peidos matinais quando estou só, vejo filmes cabeça pra me achar culto e descolado mas prefiro os blockbusters de todomundo, nunca mando ninguém se foder, trabalho pra manter minha vidinha chinfrim e custear meus pequenos luxos - livros, livros, livros, vejo pornografia na internet como todo macho e macho nem tanto, arranco o filete de carne agarrado no vão dos dentes com os dedos, gosto do sexo esquisito que agrada a todos mas poucos admitem (nada contra mas, a coisa é subjetiva pacas, sem viadagem), leio calhamaços pelo desafio, as sacolinhas azuis na igreja sempre me envergonharam e marcos feliciano não me representa.

Carlos Cruz - 30/03/2013

Pintura: Shawn Barber

domingo, 24 de março de 2013

dorgas



tremores, alucinações, boca seca, palpitações, delirium tremens, coração na calvaria pulsante, olhos nos olhos boquiabertos. o sol gélido empretecido. a lua carcará sanguinolenta coruscante. antes que sobrevenha o esquizoide catatônico que tudo sabe,a iluminação regozijantemente nauseabunda, a bunda retrátil que retrata e sorri e o rigor mortis, vos digo a vós que escutai a voz: dorgas. largai. enquanto Seu Lobo não vem.

Carlos Cruz - 24/03/2013

quarta-feira, 20 de março de 2013

Balzac sem SAC


deus, o todo-poderoso-de-olhos-chamuscantes, materializou-se em minha bacanal onírica e, esbanjando austeridade e vozeirão de trovão, mandou a letra, na lata: "quereis usufruir os prazeres e dissabores da vida mundana ad infinitum? comprai e lede balzac. enquanto não exaurirdes a comédia humana, vosso espírito permanecerá encerrado no cárcere que expele vapores nauseabundos, a sorrir pateticamente de sua própria vileza." eu, que não sou bobo nem nada, antevendo-me um highlander de espada flamejante sempre em riste, relampagueando a la he-man, acresci proust à lista e cliquei no botão comprar. foi aí nesse ínterim fatídico que o pequenino avatar brotou no canto esquerdo inferior do vídeo. evitei encarar os olhos-de-fogo pra não virar estátua de sal ou churrasquinho de carvão, mas o cabeludo barbudo grisalho sorridente, sem mais e de repente, foi ficando enrubescido, à proporção que o ígneo dos olhos enegrecia a olhos vistos. não tardou e a possibilidade de mirá-lo sem os receios pétreos iniciais deu o ar de sua graça, devidamente acompanhada e assistida pela recém-manifestada nefanda constatação: eu me fodera. o barbudo era o chifrudo de cavanca, rabo e cascos de bode. "me chamo mefistófeles. que prazer te conhcer!", disparou o sem-mãe, entre risadinhas zombeteiras. mas nem, pensei. morro, mas morro letrado, entupido de cultura a peidar literatura. "aqui jaz carlos cruz. ele leu balzac." ui. de mais a mais, vamos e venhamos que um livro com esse nome deve ao menos possuir algum humor. foda-se o capiroto traíra filho da puta e suas traquinagens de sérgio malandro glu glu ié ié. eu vou ler essa caralha. se à palavra fim inda houver respiração, emito minha opinião. se não, boiemos na crista do aluvião, sentemos sensatos à sombra do pé de feijão e, com unhas e dentes, destrinchemos carinhosamente nossa adorável auto-aberração. tudo é ficção.

Carlos Cruz - 20/03/2013

quinta-feira, 7 de março de 2013

pastor joão II, a revanche




"esse pessoal que fica reclamando em rede social não sabe fazer campanha. cambada de imbecis. o sujeito pode até ser trouxa, isto é perfeitamente aceitável, mas trouxa e burro aí já é demais! pra uma campanha ser valorizada e bem-sucedida tem que rolar cascalho, tiricutico, bufunfa, dindim, grana, arame, bolsa, cabedal, capim, capital, caraminguá, cascalho, cobre, erva, gaita, grana, metal, numerário, pecúnia, pila, prata, tostão, tubos, tutu, verba. lembram daquele filme, o tropa de elite? eu não vi porque tem muita violência e corrupção, mas minha mulher viu e disse que tem um personagem que diz uma frase que cabe muito bem aqui nesse meu mini-manual de como fazer uma boa campanha: "quem quer rir tem que fazer rir". é bem por aí, a obra de deus não pode ficar parada. se não me querem na comissão, façam uma doação, ora bolas. aceitamos dinheiro, cartão, cheques pré, vales-transporte, tíquetes-refeição, eletro-eletrônicos, móveis, imóveis, automóveis, cadeiras-de-rodas, próteses, óculos, bengalas, muletas, olhos de vidro e fotos do führer autografadas. tudo para a honra e glória do nome do Senhor. amém?"

pastor m. "feliz" f.

quarta-feira, 6 de março de 2013

lavoura só





mãos calejadas do labor braçal de sol a sol, benedito vestia camisinhas para não machucar o milho durante a debulha. michel, o filho do patrão, vivaz, sagaz e cheio de frescor adolescente, contrariado e salivantemente, classificou a técnica de "o cúmulo do forever alone agrícola". rechaçado ao oferecer a solidária mão, remoendo mesquinhez e cólera, retaliou: criou um meme de benedito debulhando o milho e semeou na internet.

Carlos Cruz - 06/03/2013

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Dos Sectários do Canho-Do-Pé-Preto



Petição Pública dos Headbangers, Góticos e Aficionados Por Death e Black Metal Miguelenses aos Exmos. Membros da Câmara de Vereadores de Miguel Pereira

Exmos. Srs.

Nós, integrantes da galera que enverga roupa preta, usa braceletes de tachinhas, passa sombra nos olhos, curte um rock podreira, frequenta cemitérios e assiste a filmes de zumbis, vimos, por meio do nosso representante (que não compartilha do ideário nem tampouco da indumentária dos representados, que fique bem claro), reivindicar nosso sacrossanto direito, enquanto cidadãos brasileiros, fluminenses (não me agrada esse designativo local) e miguelenses ilibados e cumpridores fiéis de seus deveres, no sentido de que seja estabelecido o DIA DO SATANISTA, a ser celebrado no dia 06 do mês 06 dos anos vindouros, a partir de 06:00 h. Requeremos, ainda, que o DIA DO SATANISTA seja elevado à categoria de FERIADO PÚBLICO MUNICIPAL, para podermos nos dedicar aos rituais comemorativos (que incluem bebericar drinques feitos à base de sangue de bode e dançar pelados em torno da fogueira no centro da estrela mágica, em local hermeticamente fechado e sem acesso ao público, obviamente). Rogamos aos conspícuos edis que se dispam de todo e qualquer preconceito, por mais arraigado, ao analisar o teor de nossa demanda, porquanto, como é notório, vivemos em um Estado Democrático de Direito laico, cujos princípios basilares previstos na Carta Magna incluem a inviolabilidade do direito à liberdade e à igualdade. Ademais, "aequitas in paribus causis, paria jura desiderat." 

Nestes Termos,
Pedimos Deferimento.

Ass. Pupilos de Moloch Miguelenses

*Nota: O texto acima é ficcional e humorístico. Qualquer semelhança com fatos ou pessoas é mera coincidência.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Nouvelle Vague


Truffaut
ouviu Sambô
leu Foucault
bateu bongô
aprendeu tricô
saudou Xangô
comprou bibelô
alugou bangalô
virou gigolô
comeu escargot
bebeu merlot

dor-de-barriga filha da puta!

Truffaut
fez cocô

Carlos Cruz - 15/02/2013

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013



Hedionda Poesia Hodierna

estética
agita
se
extática

entretanto

entre tantos

estatística
cala
se
estática

entrementes

entre mentes

fanfarrões
aclamados
desfilam

despudorada
fanfarra
cacofônica

Carlos Cruz - 13/02/2013

gravura:Une fanfare de musique, Ferdinand Roybet

domingo, 3 de fevereiro de 2013

dr. jekyll & mr. hyde




reza a estória e ainda a história que, com o girar dos ponteiros, o monstro - que de monstro nada tem - chuta a bunda do engomadinho e toma as rédeas da situação. na sessão, a mesa ouija revela que o janota absorvido, lá do fundo do esôfago, está feliz assim.


Carlos Cruz - 02/02/2013