sábado, 9 de junho de 2007

Plantão Médico








Viu surgir a cabeça. Segurou com cuidado, puxou, bem devagar. Percebeu a dilatação, os ombros eram a parte mais difícil. Passaram. Depois os braços, o tórax, o abdômen, a região pélvica, os glúteos, as pernas...
Provavelmente, há alguns anos, acharia aquilo engraçado. Contudo, após trinta anos de carreira, o proctologista considerou o resultado do procedimento apenas inusitado. A boneca Barbie, toda lambuzada de excrementos, sorria na bandeja, enquanto o travesti, a julgar pelos gemidos, parecia haver tido um orgasmo.


Carlos Cruz - 08/06/2007

O Vermelho e o Negro








Acordou feliz naquele vinte e cinco de abril. Faziam exatos três anos que conhecera Cláudia, a mulher de sua vida. Amava-a, como nunca amara outra mulher. Comprou flores e um vestido vermelho - a cor preferida dela. Seguiu radiante para encontrá-la na casa, alugada há poucos meses, duas horas antes do combinado.
Estacou, estupefacto, ante a visão de sua amada - de espartilho, cintas-ligas e meias sete oitavos vermelhas - sendo selvagemente sodomizada pelo negro, sobre a cama na qual tiveram tantas noites de amor. Comeu as rosas vermelhas, uma a uma, vermelho de raiva.


Carlos Cruz - 06/06/2007

O Fenômeno


Iniciou a arrancada no meio do campo. Driblou o primeiro, o segundo, o terceiro, deu uma rápida olhadela em direção ao gol adversário, escolheu o canto, chutou e fez o gol. Os espectadores, às margens do campo, foram ao delírio.
A explosão da bomba de gás lacrimogênio, lançada pelos policiais do Batalhão de Choque, interrompeu a comemoração. Um a um, os presos foram se sentando, nus, no pátio do presídio, enquanto os bombeiros recolhiam o corpo no interior da cela 53, e aquela massa disforme, cabeluda, suja de terra e sangue, que estava no fundo da rede.

Carlos Cruz – 07/06/2007