domingo, 18 de dezembro de 2011

mundo perro - parte 6




giroflex vermelhos girando e girando e girando. sem parar. vermelho. sangue. vernelho-sangue. um sujeito negro chafurdando no seu próprio sangue no piso amarelo. pms com testas franzidas, fardas cinzas engomadas, olhos injetados. sangue. olhos de sangue. sangue nos olhos. ao balcão, uma mulata chora. olhos entalhados no fundo de olheiras negras chovem em conta-gotas. lágrimas ininterruptas, fartas. sangue. lágrimas de sangue. farto, de novo novamente mais uma vez. estou farto e trêmulo. insano, enfim, estremeço. atirar! quero muito. necessito atirar! e atiro. descarrego minha pistola. recarrego, atiro de novo e de novo e de novo. alvoroço. pandemônio. pessoas ao chão. pms e civis e santiago se entreolhando, atônitos. em meio ao caos, transtornadamente tresloucado, sinto o calor no ombro somente quando a munição acaba. fumaça, neblina e cheiro de pólvora. o fluido vermelho que jorra, a cântaros, torna-se uma mancha crescente no piso amarelo. concomitante, choro e rio. babo também, acho. ora penso estar louco e sou tomado por um sentimento que acredito ser a alardeada, almejada felicidade; ora sobrevêm a decepção a partir da constatação de que ainda concateno pensamentos. dizem que os loucos não pensam. penso, logo, raciocino, logo, ajo em conformidade com a razão. quem disse isso? há estudos científicos comprobatórios de tal assertiva? ou serão meras quimeras dos dementes? não tenho respostas nem as desejo, quero apenas prolongar essa sensação de purificação libertária, esse júbilo remissivo que me enche de paz e me dá ganas de morder os dedos do pé e cantar as músicas do Benito di Paula. justo nesse instante - por que tão fugaz? - vejo a luz. vá para a luz, caroline! feliz, sim!, imirjo na lagoa rubra iluminada por pássaros de fogo emissários do hades. apago a luz e acendo um sorriso sem dentes no canto da boca. desapegado e telúrico, etéreo e com pés plúmbeos, não ascendo. a vida, afinal, não é assim tão ruim.


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