sábado, 6 de outubro de 2007

Power Metal Caipira



Malgrado o visual doidão - cabelo moicano tingido de verde, alargadores nas orelhas, tatuagens e piercings por todo corpo e rosto - o que Kid Chitão gostava mesmo era de música sertaneja. Onde houvesse um show de alguma das múltiplas duplas ou cantores de seu estilo musical preferido, lá estava ele, figura fácil destacando-se no mar de camisas xadrezes, chapéus, cinturões, calças jeans e botas de couro cru marrons.
Certa noite, após levar um fora da namorada Mary Lu, durante a apresentação da dupla Chapelão e Chapeludo no Pátio de Exposições de sua cidade, Kid Chitão, profundamente abatido e desolado, entregou-se, sem rédeas, aos braços do deus Baco, tomou todas e mais algumas. A embriaguez veio à galope. Ao final do espetáculo, completamente bêbado, acabou adormecendo num dos bancos da praça central, sob o busto de D. Pedro I, montado em seu cavalo. Lá pelas tantas, despertou com um safanão de um policial militar:
- Ô Cachaça! Acorda aí! Não pode dormir aqui não! Ô! Ô!
Kid abriu lentamente os olhos, o rosto do PM aos poucos formando-se à sua frente; viu olhos injetados e vermelhos - sangue - viu sangue naqueles olhos. Sentou-se com dificuldade, meio atordoado. Tartamudeante, redargüiu da única forma que lhe veio à mente naquele momento:
- Seu guarda, eu não sou vagabundo, eu não sou delinqüente, sou um cara carente. Eu dormi na praça pensando nela. Seu guarda seja meu amigo, me bata, me...
O golpe do cacetete no dorso interrompeu a argumentação musical de Chitão. Ainda levou mais duas porradas antes de debandar, trôpego, em meio à saraivada de impropérios:
- Odeio música sertaneja! Vaza, seu arrombado! Vaza, porra!

Carlos Cruz - 16/08/2007

2 comentários:

*andorinharos@ disse...

Opa!
ta bom demais! Muito próximo da realidade e distante da ficção... Virei mais vezes.
Ótimo!
parabens!

Klotz disse...

Bom, muito bom...

O que você anda lendo para encontrar palvras como tartamudear?