terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Feliz Ano Novo, Seu Maluco!



Os segundos finais do ano que acabava pareceram-lhe intermináveis horas. As marteladas no seu cérebro acompanhavam o ritmo alucinante imposto pela bateria trash impiedosamente massacrada dentro de seu coração atormentado. Agonizavam. Ele e o ano velho. Tinha certeza que o alvorecer do novo ano trar-lhe-ia a morte. Tentara, sem êxito, alertar os familiares. Não deram-lhe ouvidos. Os psicólogos e os policiais tiveram a mesma atitude fleumática. "Maluco." - diziam, entredentes. O primeiro estampido dos fogos de artifício causou-lhe um sobressalto. Depois, a saraivada, as múltiplas cores pipocando no céu estrelado, saudando luminosamente o nascituro ano. O fascínio do espetáculo deu-lhe um certo estupor, quase esqueceu sua sina. Foi quando a pequena e estrepitosa língua de fogo, proveniente de um arbusto próximo, trouxe-o de volta à realidade. Sentiu o calor no abdômen, a dor lancinante, o sangue quente urdindo da ferida aberta, ensopando sua camisa branca. Antes do derradeiro estertor, fitou o céu iluminado por aquela profusão de estrelas cadentes artificiais. Contraindo os lábios num ricto, pensou, satisfeito: "Eu estava certo!"

Carlos Cruz - 31/12/2007

Um comentário:

medusa que costura insanidades disse...

Esse me lembra um ataque de pânico que eu tive em uma explosão de fogos na praia em um ano novo remoto
Uma garrafa de qualquer coisa bebida em um só gole ajudou um pouco